sábado, agosto 30, 2008

E a viagem continua

A vida é cheia de caminhos, estradas, vilas, curvas, retas, viadutos, pontes... Como se na hora em que nascemos entramos no carro do papai e da mamãe e vamos seguindo viagem com eles. Aprendemos a ver o mundo da janela daquele carro, ouvindo o que eles dizem sobre as cidades, as ruas, os amigos que eles encontram a cada parada. Depois vamos crescendo e aprendendo alguns caminhos, vendo que se eu dobrar pra esquerda naquele cruzamento vai ser melhor do que eu dobrar pra direita. Mas ainda somos novos, a estrada é longa e nem sempre sabemos ao certo onde dobrar, ou nem mesmo se devemos ir em frente. O tempo passa e acabamos não ficando preso àquele carro, pegamos ônibus, carona, andamos de bicicleta. A viagem agora parece ser muito mais divertida, descobrimos muitos outros caminhos pra chegar no mesmo lugar. Ou não.
Depois que começamos a dirigir nosso próprio carro tudo fica mais difícil. Aqueles que nos guiaram por muito tempo temem essa estrada, nela existem muitos buracos, bêbados, blitzes, mendigos, pedestres e postes. Algumas vezes temos que dar com a cara no poste pra aprender a não correr tanto, se o caminho é longo, nos exige pressa, mas precisamos de radares. Os carros mudam, uns mais rápidos e outros mais lentos. Por muitas vezes damos carona, pegamos carona. Subimos em ônibus cheios de pessoas diferentes, descemos, subimos...
A viagem nunca é constante.
A idade vai passando e o vento não balança mais tantos cabelos, o óculos não faz mais os olhos arderem, o ar-condicionado já dói nos ossos e a velocidade é cada vez menor. O carro quebra, trocam-se as peças, algumas já não vendem mais. Nunca venderam, são únicas.
Vamos vendo cada vez mais acidentes, nossos motoristas do início da viagem já pararam. Já começamos a guiar outros pequenos passageiros, começamos a ensinar o mundo para que, quando eles tenham seus próprios carros, errem do mesmo jeito que erramos. Porque viagem boa, é aquela que dá saudade.

quarta-feira, agosto 27, 2008

É hora de partir

Estou pronto, foi árduo o trabalho de organizar tudo, nada mais pode me prender. A viagem vai ser difícil, o caminho não é tão longo, mas parece demorar séculos. Justo na hora que o que eu mais preciso é ser rápido tudo parece ser tão devagar. Ando o mais rápido que posso.

Corro.

Pessoas se metem na minha frente, o celular toca, o chefe pede para que eu não vá, que aguarde algum tempo, pode ser uma decisão precipitada, pode ser que não seja de verdade, mas não dá mais pra aguentar, eu clamo por isso, meu corpo necessita disso, minha mente me manda fazer isso. Se parar no meio do caminho está tudo perdido.

Acelero o que posso, tiro fino de tudo que está próximo ao meu trajeto, dobro no corredor e lá está a porta que sonho que aliviará todas as minhas angústias e sofrimentos. Só me resta alguns passos, parece que vou conseguir sem me ferir. Prefiro não falar com ninguém, vou de uma vez só, sem paradas, sem acenos ou conversas. Eu sei que quando chegar lá as coisas não serão tão fáceis como aqui, vou suar, vou pensar, poderei analisar tudo o que anda acontecendo comigo, em suma, vai ser bom. No final vai acabar bem, sei que vou ficar mais aliviado, conseguirei sair limpo de lá. Eu sei que sim!

Está trancada! Não posso fazer escândalo. Penso, ando, espero que tenha alguma resposta para aquele incidente. Como assim, justo naquela hora? Surge uma voz lá de dentro, barulhos familiares. Já não aguento mais tanta espera, vou acabar fazendo uma besteira.
Eis que a porta se abre. Finalmente. Lá vou eu em minha viagem...

Tapem seus narizes e me esqueçam, o ato de cagar, pra mim, é sagrado.

segunda-feira, agosto 25, 2008

A Salvação

Quando foi anunciada a invenção da máquina do tempo, todos ficaram loucos para conhece-la, pessoas do mundo todo queriam saber onde estava, quem tinha inventado, qual era o tamanho, quanto de energia ela gastava, quanto custaria uma passagem, o que aconteceria se aquilo se tornasse normal, quanto universos existiriam se um milhão de pessoas viajassem no tempo? Essas eram umas das várias perguntas que o mundo se fazia.
Na escola, começaram a surgir matérias falando só sobre a máquina do tempo em sua teoria, faculdades de física explodiram pelo mundo numa intensidade muito maior que as de direito no Brasil, contadores, médicos, farmacêuticos, motoristas e policiais estavam se suicidando.
De repente, o mundo dividiu-se em pró e contra à máquina do tempo. ONG's e governos se mobilizaram a assumir um lado. Religiosos faziam ataques terroristas aos supostos países que poderiam obter a tecnologia para funciona-la. O caos tomou proporções de vilas até continentes inteiros divididos. Limites territoriais já não existiam mais, a opinião fez surgir países menores que uma piscina olímpica.
Novamente o mundo tinha virado bipolar. A população passou de 12 bilhões para 3 bilhões devido às guerras. E a máquina ainda não tinha nem começado à funcionar.
Testes e mais testes, guerras e mais guerras fizeram o lançamento ser adiado por décadas.
Então, quando chegara a hora marcada, quando finalmente a máquina seria lançada, quando aquele projeto ultra-secreto seria revelado...

Descobrira-se que era uma bomba nuclear devastadora, que destruiria o mundo inteiro e levava uma única pessoa à exatamente um dia antes da invenção ser anunciada para destruí-la.

sábado, agosto 23, 2008

Uma música feita para uma caneta marca texto

Uma vez o peta disse que não disse nada, que tudo que tinham falado era invenção da mídia e que ele tinha sido escolhido para ser o laranja do ibope.

Xanéu nº 5

A minha tv não se conteve
Atrevida passou a ter vida
Olhando pra mim.

Assistindo a todos os meus segredos,
minhas parcerias, dúvidas, medos,
Minha tv não obedece.

Não quer mais passar novela, sonha um dia em ser janela e não quer mais ficar no ar. Não quer papo com a antena nem saber se vale a pena ver de novo tudo que já vi.

Vi.

A minha TV não se esquece nem do preço nem da prece que faço pra mesma funcionar. Me disse que se rende à internet em suma não se submete a nada pra me informar.

Não quis mais saber de festa não pensou em ser honesta funcionando quando precisei. A notícia que esperava consegui na madrugada num site, flickr, blog, fotolog que acessei.

A minha tv tá louca, me mandou calar a boca e não tirar a bunda do sofá. Mas eu sou facinho de marré-de-sí, se a maré subir eu vou me levantar. Não quero saber se é a cabo nem se minha assinatura vai mudar tudo que aprendi,
triste o fim do seriado, um bocado magoado sem saber o que será de mim.


Ela não SAP quem eu sou,
Ela não fala a minha lingua.
(x4) (She don't speak my tongue)

Não.
"Pô tô cansado de toda essa merda que eles mostram na televisão todo dia mano, não aguento mais, é foda!"

Manda bala Fernando...

Enquanto pessoas perguntam por que, outras pessoas perguntam por que não?
Até porque não acredito no que é dito, no que é visto.
Acesso é poder e o poder é a informação. Qualquer palavra satisfaz. A garota, o rapaz e a paz quem traz, tanto faz. O valor é temporário, o amor imaginário e a festa é um perjúrio. Um minuto de silêncio é um minuto reservado de murmúrio, de anestesia. O sistema é nervoso e te acalma com a programação do dia, com a narrativa. A vida ingrata de quem acha que é notícia, de quem acha que é momento, na tua tela querem ensinar a fazer comida uma nação que não tem ovo na panela, que não tem gesto, quem tem medo assimila toda forma de expressão como protesto.

Falou e disse...

Num passado remoto perdi meu controle...
Num passado remoto perdi meu controle...

Num passado remoto...

Era vida em preto e branco, quase nunca colorida reprisando coisas que não fiz, finalmente se acabando feito longa, feito curta que termina com final feliz..

Ela não SAP quem eu sou,
Ela não fala a minha língua.

Ela não SAP quem eu sou,
(Sabe nada...)
Ela não fala a minha língua.

Ela não SAP quem eu sou,
Ela não fala a minha língua.
(Quem te viu, pay-per-view.)

Ela não SAP quem eu sou,
Ela não fala a minha língua.

Eu não sei se pay-per-view ou se quem viu tudo fui eu.
(x2)

A minha tv tá louca.

quarta-feira, agosto 20, 2008

Entre o céu e o asfalto

Fora como uma rodoviária.
Barulhento, barato, uma longa viagem. Meio que de repente eles tinham escolhido embarcar naquele ônibus, com um destino certo pra algum lugar que eles não conheciam, mas que iriam se adaptando conforme a viagem percorria. De escalas em escalas, na estrada da convivência, as paradas eram muitas. Bares, festas, casas, bebidas, brigas, esquinas, choros, porres, brigas, orelhões, celulares, motéis, esquinas, calçadas, bares, lachonetes... Eles sabiam que a viagem poderia ser longa, bastava que nenhum dos dois descesse antes do planejado. E eles conseguiam, com muita parceria, empréstimos de cobertor, vigilâncias de porta de banheiro, despertadores mútuos e conversas, nunca tinha passado pela cabeça deles sair daquela viagem. A paisagem era linda, a cada novo lugar tudo era diferente, estavam se descobrindo a cada quilômetro. Muito barulho, muita gritaria, pneu furado, suor, gemido e lágrimas. Fazia parte, eles tinham escolhido o ônibus. A viagem poderia durar mais que o previsto pois a rota poderia mudar, o motorista mudava de caminhos sem avisar. E ái deles que não estivessem preparados. A estrada tinha buracos e os deixavam enjoados, mas um sempre tinha algum saquinho de vômito para dar para o outro.
Meses se passaram e a viagem não era mais tão legal como antes. Os fetiches, as brincadeiras, as sacanagens que eles achavam que ninguém via, já não tinham mais tanta graça. Porém o medo de não ter mais cobertor, o medo de não ter com quem comentar o pôr-do-sol visto da janela, as nuvens, as pedras com formas engraçadas, isso os deixavam muito mais próximos.
Eis que então, numa das escalas, aquela que eles mais temiam - Trabalho. Ela têve que abandonar aquele ônibus. Tudo já contribuia pra isso, ela já não estava mais com todas as certezas que tinha antes, achava que ele já tinha brincado com outras passageiras e estava cheia de dúvidas.
Pegaram outro ônibus, no caminho inverso, com destino ao Aeroporto.
Aquela fora a pior viagem de suas vidas! Uma péssima estrada, muito enjôo, sem brincadeirinhas e sacanagens debaixo do cobertor, muitos vômitos, gritaria e porradas. Enfim chegaram.
No aeroporto tudo era diferente, o oposto da rodoviária.
Silêncio, caro, descartável, rostos sem ansiedade, todos a espera de uma viagem rápida que os levassem logo pra longe daqueles problemas.
Ele no clima de rodoviária e ela já no clima de aeroporto. Se despediram num abraço um tanto rodoviário e um tanto aeroportuário. Um vai-não-vai, um falo-não-falo, mais uns fica-não-fica e acabou que ela foi.
Se ele estivesse na rodoviária, gritaria, espernearia, pularia as fitas de proteção, sairia correndo atras dela. Mas não, não podia. Lá tinham seguranças grandes e detectores de metáis.

Ela foi, num vôo rápido e pra sempre. Ele ficou, numa viagem longa e passageira de saudades.