domingo, maio 28, 2006

Inanimado

Parado. É assim que eu fico... Todo dia eu vejo elas passarem, irem ao mercado, pagar contas... Mas eu não! Prefiro ficar aqui, parado, só olhando. E não me pergunte porquê. Porque eu não vou responder.
Assim sou eu, não gosto de me mexer, apenas olhar... Mas não pense que eu reflito, eu apenas olho mesmo! Olho porque gosto de olhar, mas é claro, olho sem pensar.
Meu maior competidor é o poste. Sempre competimos pra ver quem é o mais parado, o mais frio.
Ele é muito bom nisso. Ás vezes me pergunto como ele consegue ficar tão parado...
Ultimamente eu tenho feito intimidades com ele, só que ele é muito desinteressante e parado.
Como em toda boa competição não pode haver muita comunicação, eu tenho o evitado. Tem vezes que ele fala demais sobre nada.
Agora não me enche e deixa eu voltar a ficar... Parado.

Ass: convidado

quinta-feira, maio 25, 2006

O salto

Quando estava a caminho do colégio, aconteceu um fato que chamou a minha atenção. Havia chovido muito, e por isso os buracos das calçandas tinham se tornado verdadeiros "lagos artificiais". Estava caminhando, até que reparei em um menino que vinha com sua mãe na minha direção. Ao meu lado havia uma dessas poças enormes cheia de água suja e terra. Ela estava mais perto de mim, e assim que a alcancei, desviei e continuei a olhá-los. Quando ele chegou perto da poça, parou diante dela e a contemplou por um momento, logo depois olhou para sua mãe, que o retribuiu com um olhar de desaprovação. Com um sorriso malicioso no rosto, olhou para os lados, para a poça, e pulou! Mas caiu, havia calculado mal, dera um passo maior que a perna, e em conseqüencia disto, molhou o pé e espirrou água para todos os lados. Porém, ao contrário do que muitos podem pensar, ele se ergueu, sacudiu o pé e sorriu para sua mãe. Que coisa feia menino! Você viu o que você fez? Está todo sujo! - disse ela. Todos em volta concordaram e olharam para ele com ar de punição. Eu, ao contrário deles, sorri, pois vi nessa atitude a determinação e a coragem frente à um obstáculo. Ele enfrentou o medo e a possível punição de sua mãe, e pulou. Sua mãe escolheu o caminho mais fácil, o de desviar, assim como eu e muitos outros. Escolhemos porque sabemos os efeitos de nossas ações e analisamos nossas possibilidades. E ficamos sempre nisso, desviando dos problemas e dos desafios, nunca o enfrentamos, pois sabemos que temos a chance de cair. Sim ,cair! Por que não? Por que não ter a determinação do menino e pular? É mais cômodo ficar onde estamos, na estabilidade da vida que segue e nos leva para onde quisermos, fazendo com que sejamos escravos de nossos medos. Cadê a força de vontade e o otimismo? Pelo visto ficaram guardadas na caixa de Pandora junto á esperança. O menino errou o cálculo sim, e daí?! Qual o problema de errar? Os erros não servem para nos ridicularizar, e sim nos impulsionar a tentar de novo, e a tentar, e a tentar... com as tentativas, as pernas crescem e se fortificam para a vitória de um próximo salto. E se a queda vier, levante e sorria como um menino! Muitos irão humilhá-lo, mas não ligue, corra atrás das borboletas amarelas!
Continuei a andar e a olhar para trás, por mais que sua mãe brigasse, o menino continuava sorrindo, de certo pensando, "da próxima vez eu consigo!". A minha vontade era de ir lá e dizer "estou contigo".

Acaná.

sábado, maio 20, 2006

Enquanto a Cidade dorme


Lá pras seis horas da tarde, a cidade ja vai preparando-se pra dormir...
Seus olhos vão fechando, o céu vai escurecendo...
O sono bate, os carros passam apressados em busca de suas garagens quentinhas, as luzes dos sinais de transito ficam mais nítidas, os postes começam a ter seu devido valor e todo dia uma nova vida começa.
Há alguns que entendem como se o dia terminasse apartir dalí. Para outros, o dia está apenas começando...
Mais tarde, ja percebemos que a Cidade ja foi pra cama. Aqueles zunidos os seus ouvidos já são menos estridentes, nas suas veias, o sangue ja não passa tão apressado e seu corpo continua trabalhando, com menor intensidade, mas continua trabalhando.
É nessa hora que nos deparamos que existe algo muito maior que nós. Algo que comparando (malditas comparações), percebemos o quanto somos ínfimos a esse belissímo Macro que nos rodeia.
O porteiro, aquele que, provavelmente deve ter trabalhado o dia inteiro, rende-se ao sono na sua portaria. Nem uma programação altamente interessante de câmeras internas o atrai. Esses que tem que enganar a si mesmos que algumas grades e laminas de vidro o protegem de balas e bandidos. Esse, que tem que parecer acordado para todos os que o vêem, pois todos jogam toda a sua sensação de segurança naquele que não tem nem como dormir direito.
O vigia roda as ruas com sua bicileta, seu cacetete e seu apito. Fazendo sinfonias que só ele vai escutar. Grande apito esse! Gostaria eu de poder ter uma função de tanto equilibrio e polaridade como "O Apito do Vigia". Ao mesmo tempo que acalenta os moradores aflitos daquela Cidade que dorme, ele tenta afugentar aqueles que procuram seu trabalho na casa dos outros sem autorização durante a madrugada.
O feirante começa a arrumar suas tarefas frutíferas matinais. O gatuno começa a ir em busca de trabalho. O individuo que faz a justiça das ruas começa a ficar menos tranquilo...
E aqueles que movimentam a cidade vão vivendo sua propria vida.
As vezes a vontade de poder voar baixo nas ruas vazias e inocentes durante a madrugada é suprida pelo desejo de admirar aquelas cenas únicas.
O brilho ofuscante dos postes, o reflexo verde, amarelo e vermelho dos sinais nas ruas, as estrelas que nos conduzem por nossos caminhos, os sons, que quando resolvem apareçer, vem tão distantes que parecem canção de ninar...
Glorificado é aquele que vive como uma Cidade: Pronta pra servir a todos e mais bela enquanto descansa.

Ê viva as Madrugadas!!

Cauã

quinta-feira, maio 18, 2006

Que Deus é esse?

"Opus Dei protesta contra 'Código da Vinci'
RIO - A Opus Dei divulgou um comunicado de protesto contra o filme "O Código da Vinci", baseado no livro homônimo de Dan Brown. Segundo a prelazia, em nenhum momento a película de Ron Howard avisa que é inspirada em uma obra de ficção.
"O Código da Vinci", blockbuster protagonizado por Tom Hanks, lida com teorias polêmicas para a Igreja Católica, como o fato de que Jesus Cristo teria tido um relacionamento com Maria Madalena e prolongado sua linhagem até os dias atuais.
A representação da Opus Dei no Brasil não programou protestos para a estréia do filme, amanhã em circuito nacional."


Por que nós não podemos tirar nossas próprias conclusões? Pra que proibir a exibição de um filme que vai contra os dogmas da Santa Igreja Apostólica Romana? Sempre Ela, que em nome de Deus diz ser a única Verdade absoluta, e usurpando essa verdade fez as Guerras de "paz", para "salvar " as almas do inferno e conduzi-las ao paraíso. Em nome de Deus fez dos negros africanos, escravos. Fez daqueles que julgavam "bruxos", churrasco na fogueira. Lucrou em cima daqueles que compravam seus lugares no "céu", vendendo as milhares de coroas de espinhos que Jesus usou e outros milhões de litros derramados por Ele na cruz. Que Deus é esse? Pra mim Ele tem outros nomes: poder, dinheiro, ganância, corrupção. E esse Deus não está no céu, há vários deles em cada esquina do mundo.

Acaná.

quarta-feira, maio 17, 2006

Relatos de Um Velho Aprendiz

Ao auge do meus noventa e nove anos posso dizer que consegui aprender algo nessa vida. Meu maior dilema é entender porque os dias demoram tanto pra passar e ao mesmo tempo a vida é tão curta...

Quem me dera poder aproveitar esse dias tão extensos pra fazer tudo que planejava em minha vida. Dádiva divina seria se pudesse aproveitar cada segundo. 'Aproveitar', que eu digo, seria lembrar, reconheçer, saber o quanto aquele mísero segundo mudou minha vida.
Ahh os segundos... Quanta falta eu sinto deles! Quando você começa a ter como referência de passagem de tempo as décadas e os anos, aqueles segundinhos viram irreais. Que graça tem a vida quando tudo já virou rotina? Quando tudo já é normal? Depois de 99 anos, é raro acontecer algo que me surpreenda. É lógico que essas guerras, a ignorância do homem e todo esse desrrespeito com tudo e com todos me surpreende, um pouquinho, mas surpreende.
Mas eu digo é das coisas boas!!! Mesmo que o sol nasça todos os dias "diferente", pra mim ele já tem o mesmo brilho. Mesmo que a Lua seja cada vez mais cheia, pra mim ela já não passa de um ponto no céu que os sonhadores não cansam em alcançar. Os sonhos, que antes atormentavam minha mente com os questionamentos se eram possíveis ou não, esses eu já me esqueço logo quando acordo. É dessas coisas que eu sinto falta. Ao menos uma coisa boa: Eu sinto falta de algo.

Sinto falta do carinho, que antes era mais intenso. Sinto falta das companias, que antes eram mais espontâneas. Sinto falta do amor, que antes era a razão do meu viver. O Mundo era maior, a proximidade era menor, as palavras eram melhores, o connhecimento era pior, os sentimentos eram verdadeiros, as uniões eram falsas, a criança era feliz, o adulto ficava triste... Muita coisa mudou! Ou não...

O que quero passar com esse epitáfio, é que aprendam a viver com base nos momentos contínuos. Não esqueçam de vocês mesmos. Não deixem o EU próprio de cada um de vocês ir embora. Vivam aqueles segundos, surpreendam-se com as mínimas coisas, sejam loucos, demostrem os sentimentos, esqueçam o orgulho, ouçam mais música, leiam mais textos, escrevam mais poesias, falem mais de amor, discutam mais a política. Ensinem! Aprendam!

Uma coisa nessa vida eu aprendi!
Ainda tenho muito o que aprender!

Cauã

terça-feira, maio 16, 2006

O que é o amor?

Mãe,o que é o amor? Ah, minha filha amor é o sentimento que eu sinto por você, e é desse tamanhozão aqui oh! Foi a primeira resposta que ouvi na minha vida sobre essa pergunta. Ah, deve ser muito grande então, se mamãe disse que era tão grande como aquela porta, é porque deve ser mesmo! Tentei materializar o amor, como uma porta, sim foi a primeira vez que o materializei. Sempre que minha mãe dizia "te amo", imaginava o tamanho daquela porta na minha cabeça, e assim foi até meu primeiro namorado dizer que o amor que ele sentia por mim era tão grande como o mundo! Nossa, é maior que a porta da mamãe - pensava. E em resposta eu dizia - te amo também, do tamanho mundo- sem nem saber o que de fato era. E essa foi a segunda vez que o materializei. O tempo foi passando e a forma do amor em minha vida foi mudando, depois de enorme como o mundo, foi da intensidade de um soco bem forte, como a beleza da lua, da eternidade da alma.. e assim ele foi sendo personificado. Até um dia em que discutia com um amigo sobre "o que é amor" e ele me disse ser NADA.

Como nada? Não sabes que o amor é do tamanho do mundo, da intensidade de um soco bem forte, como a beleza da lua e da eternidade da alma? - disse como se ele tivesse dito que 2 mais 2 eram cinco. Ah, mas o amor não se materializa! Ele é um sentimento, é indecifrável, inexplicável, indescritível e não personificável! - retorquiu ele, como se eu tivesse dito um absurdo. "Amor é ferida que dói e não se sente, é chama que arde sem se ver, é um contentamento descontente (...)". Não são essas as palavras de Camões?! Até ele personifica, porque eu não posso? - indaguei. Todos tentam, todos poetisam, declamam, gritam aos quatro ventos saber desse sentimento que ninguém vê e ninguém toca. Há aqueles que o subestimam e dizem só ter um na vida - os românticos-, há outros que dizem 'te amo" como se diz "oi, tudo bem?" - os sentimentais- e alguns que escolhem a quem vão amar e porquê - os racionais. Como viste há várias derivações de visões sobre tal. Mas ninguém sabe ao certo o que é, porque não é para saber. Há mistérios que não devem ser decifrados e o amor é um deles.

Acaná.