quarta-feira, novembro 15, 2006

Destecnolizar

Caramba! A minha máquina do tempo funcionou mesmo! 1990 é um bom ano pra começar uma vida nova. Cansei do stress e da correria de 16 anos adiante.
Sem computadores em todos os cantos, sem internet acessível a todos, sem celulares e com muitas mudanças.
Incrível como acabamos nos tornando verdadeiros reféns dessa tecnologia. Hoje já não conseguimos imaginar nossa vida sem esses apetrechos hi-tech's. E como não consegui sonhar com isso tambem, resolvi viver. Com toda a tecnologia que o mundo, em 2006, me oferecia, resolvi montara essa máquina. Vários telefonemas, várias pesquisas na internet, transferências bancárias em tempo real... ajudaram a livrar-me de tudo o que me "ajudou".
A manhã surge e estou em um "mundo novo" (ou seria velho?). Tenho que arranjar documents falsos e evitar encontrar-me pela rua, pois será um verdadeiro transtorno.
Que horas sã... ops. Já estava catando, sem sucesso, o meu celular no bolso. Parece ser umas 6 horas da manhã. O comercio e os departamentos publicos abrem às 8, pena que não tenho um despertador e/ou uma agenda eletrônica ambulante. Vou começar a prestar atenção nesses relógios de parede.
Ter que fazer tudo a pé é chato, mas não ter um celular pra ligar pra agenda telefônica da telepará é pior ainda.
Por sorte eu ainda tenho uns cruzeiros que tirei da coleção do meu pai pra poder me virar por aqui. Se pudesse, eu já tinha visto o meu saldo na conta do banco via-celular e facilitaria as coisas, que chato!
Pra mim, não é nada confortável não ouvir o toque do celular por um dia inteiro. Eu costumava espera-los de cinco em cinco minutos; agora é pior, eu os espero mesmo sabendo que não virão, é aquele sentimento de que algo está faltando, que chato!
Em 1990 as coisas são muito diferentes, se pudesse, já teria consultado em meu celular, a lista de melhores restaurantes, hoteis... Agora vou ter que almoçar nesse mesmo, que fica passando video show.
A noite cai e já seria hora de ligar pro pessoal e perguntar o que eles estavam planejando fazer.
Bem, acho que não é tão ruim assim. Não vou ficar me martirizando por não ter mais o que costumava fazer. Acho que a falta de celular não me deixa tão isolado do mundo assim. Era cômodo demais pra mim eu me isolar.
Um verdadeiro viciado tem que se acostumar com a falta do vício. Então, cá estou eu disposto a mandar toda essa tecnologia que me paralisou (ou não) pra daqui a, no mínimo, uns 5 anos!
Ao menos, estar "fora do ar" dessas geringonças barulhentas com emepetrês, penduricalhos e internet de velocidade turbo-mega-men-superscarissima-sônica vai valorisar um pouco o meu contato corpo-a-corpo, o que eu já tinha esquecido a muito tempo.
E, quando encontrar alguem que sentia muitas saudades, o encontro vai ser mais intenso. Pois, o MSN, orkut, celular e derivados não vão sugar essa falta aos poucos.
E sabe de uma coisa? Eu vou é melhorar essa máquina! Já que a moda é ser retrô, eu vou mandar tudo o que for moderno pra bem longe e viver uma vida sem artificialidades, pois foi só isso que a tecnologia trouxe

Cauã

quarta-feira, novembro 08, 2006

Grandes Heróis


“Salvador - Terminou em final feliz o caso do tratorista Hamilton dos Santos, de 53 anos que na semana passada se recusou a cumprir uma ordem judicial que determinava a derrubada da casa da merendeira Telma Sueli favela dos da Palestina. A Prefeitura de Salvador pretende regularizar o lote de Telma Sueli e de mais nove moradores do local, indenizando os proprietários dos terrenos que teriam sido invadidos pelos favelados.
Santos se preparava para colocar abaixo a casa da merendeira, mas percebendo o drama da mulher e das sete crianças que moram no local, o tratorista chorou e disse que não poderia executar a ordem nem que fosse preso. O oficial da Justiça que estava na favela para cumprir a ordem de despejo mandou prender Santos que foi liberado logo depois diante da repercussão do caso. (Agência Estado, 15/5/2003)
A grandeza humana vale uma matéria!”
CARLOS ALBERTO DI FRANCO


È doloroso pensar que casos assim estejam cada vez mais raros. E dói mais ainda, pensar que eles possam até nem existir mais.
Está cada vez mais difícil encontrar esses “Heróis do Cotidiano” em nossas vidas. Quando aparecem, é em algum jornal, num lugar longe de casa ou a muito tempo atrás.
Vamos crescendo, aprendendo, vendo o mundo de outra maneira e percebemos que já não temos mais heróis. A vida chegou a um ponto tão sem-graça que quando ouvimos ou vemos uma noticia dessas, nosso pensamento já não é mais de “lindo”, e sim de “que louco!”.
Ta, ta bom. Eu sei que ainda temos heróis. Papai, Mamãe, Vovós e Vovôs são os heróis-mores. Mas não são desses que estou falando, se fosse falar deles, não denominaria como “heróis do cotidiano”, e sim, de Heróis da Vida. Os do cotidiano são esses, que deixam de derrubar uma casa aqui, devolvem uma carteira ali, deixam um real cair do bolso acolá...
É, os heróis não são feitos apenas de fatos grandiosos...
Lembro-me do Tio-Do-Cachorro-Quente que sempre colocava um pouco mais de batatinha no meu hot-dog quando eu pedia, não tinha algo mais fantástico. A professora de inglês, que devido a ela, consegui passar direto no colégio; bendito meio ponto extra! Aqueles 20 centavos que o meu amigo me deu pra voltar pra casa, aquela risada mais engraçadas que as outras risadas, aquela ligação de madrugada numa noite de tédio, aquele cara que sai da vaga justo quando você está chegando...
Ahh.. Fica até complicado enumerar a quantidade de heróis e suas proezas. E até parece que o herói da noticia citada nem é tão herói assim, no meio de tantas generosidades.
Vou começar a fazer uma listinha de heróis, ver quem me salvou hoje, o que fizeram pra mim... E prestar atenção de como esses pequenininhos atos heróicos deixam a vida mais feliz.
Que os grandes heróis como o tratorista ainda exista! Pra poder me atentar a quantos heróis do cotidiano eu ainda possuo.


Cauã

sábado, outubro 28, 2006

Diálogo final

De repente, a brisa congela, o olhar fixa num ponto a tender ao infinito, as mãos trêmulas suam frio, as veias dilatam-se a fim de permitir maior passagem de sangue para nutrir o descontrole acelerado do coração, sente-se a total ausência de qualquer forma de esperança; e, após um segundo de lapso, a máquina da vida volta a funcionar, não como antes, mas num mesmo ritmo contínuo de segundos.
A vida não é mais a mesma depois da notícia cuspida do médico de que o meu tempo já não possuía um futuro incerto, e sim o de seis meses e vinte dias. Meu corpo agora começa a entrar em estado de putrefação; olho-me ao espelho e a face que se revela é dela: da morte. Ela me fita com um sorriso malicioso a saltar de seus lábios secos e frígidos, mas nada me amedronta, encaro-a como a mim mesma, já que sempre tive a certeza de sua constante presença a meu lado.
Hoje, no último dia de minha curta existência, a imagem refletida no espelho indaga-me sobre meus intuitos para as horas antecedentes à consumação do inevitável. Meu semblante contrai-se e memórias de duas décadas passam em minha mente como se eu tivesse aberto um álbum de fotografias dentro de mim. Recordo minha infância, de como as coisas eram simples; o dia em que fui expulsa de casa; os amantes de todas as noites, necessários ao meu sustento; e, finalmente, o dia em que soube do novo habitante em meu corpo: o vírus HIV. Imediatamente veio a resposta àquele questionamento: “Meu único desejo é o de conversar com meus pais, contar-lhes como sou, pedir-lhes perdão e lhes dizer do meu amor por eles”.“Pensas que eles irão aceitar-te desse jeito?” “Não importa – disse com lágrimas aos olhos – não estarei viva amanhã para sofrer a possível rejeição e enfim poderei morrer feliz. Aliás, tu, que farias?” “Eu?” – disse espantada. “Gostaria de saber como é viver”.- concluiu. “Viver? Só se dá conta da vida quando se está prestes a morrer!” – exclamei, e continuei: “É nessa hora que se pensa em tudo aquilo não feito por medo, insegurança ou culpa. E é justo no ínfimo momento que vem a louca vontade de realizar tudo quanto foi controlado e sufocado, como um vômito preso na garganta. O motivo? Simples, não se sabe quais serão as conseqüências dos atos pré-póstumos. O teu desejo é igual ao de muitos: ter vida no último dia, quanto no resto deles a única coisa que se teve foi morte”.


Acaná.

sábado, setembro 30, 2006

Então vamos falar de política

Dizem as más e demoníacas línguas que sobre futebol, política e religião não se discute. Grande calúnia! Coitados daqueles que se prendem a não falar dessas grandes chaves para o nosso conhecimento!
Como já diria meu sábio avô, "política é igual amor, nos deixa cegos". E acho que ele tem razão.
Desde que comecei a interessar-me por política, desde que comecei a pensar por mim mesmo (lê-se: depois que tirei meu título), já me vieram muitos pensamentos, muitas cogitações, muitos disse-me-disse e muitas mudanças. Porém nunca deixei de ser um cara de direita ou, como está no meu perfil do orkut, "direita-conservador".
Não adianta! Com o tempo aprendi isso. Não adianta ser o mais crítico e realista que possa existir, você vai sempre tendenciar para um lado.
É daí que eu entendo como existem pessoas que ainda votam no Lula e pessoas que ainda votam no Alckmin.
Mesmo eu sendo um dito fiel tucano, sei que existem pessoas, muitas pessoas que acham isso o absurdo mor que pode ter no planeta Terra. Assim como eu acho que votar num cara que fez muitas burradas, tem incontáveis colegas de partido que são comprovadamente corruptos (e quem sabe o próprio Lula), tem a coragem de faltar um debate e nem sabe falar o português corretamente (não que todos saibam, mas acho que um presidente deveria dar um bom exemplo) é um absurdo, eu acho que votar no Lula é um absurdo mesmo.
Mas como disse meu avô, eu posso estar cego.
Ainda consigo ver algumas coisinhas boas que ele conseguiu fazer, tanto porque, seria improvável alguém conseguir fazer tudo errado! Mas do jeito que eu avaliei, não vale, de maneira alguma, a pena votar nele e querer que ele continue mais quatro anos.

Não quero que você, seja lá quem for, venha com três pedras em cada mão pra me atirar. Você deve concordar comigo que cada um é cada um e que a política é cega.
Portanto, com esse texto nada imparcial, venho aqui protestar e fazer você não votar no Lula. Vote em qualquer outro! Heloísa–louca, Cristovam-só-penso-em-educação, e Alckmim-prometo-isso-prometo-aquilo, mas não vote no Lula! Por favor!
Vamos abrir nossos olhos e enxergar alguma coisa, pelo menos uma vez!

Ah, não vote nulo também. Mas isso é para o nosso próximo capitulo...



Cauã

quinta-feira, setembro 07, 2006

Amargo

As fotos já não as mesmas, você cresceu. Os olhos não vêem só o que parece ser. Não é mais sua mãe quem te acorda, é um tal de 'bip bip bip' que só pára quando aperta o 'soneca'. Você levanta, vai até a cozinha e não há sua mãe preparando o café, terá que o fazer sozinho. Abre a geladeira e percebe que acabaram tomates e cebolas e as frutas jazem apodrecidas. Faz a lista do supermercado e vai às compras. Não pega mais aquele carrinho onde tinha a cadeirinha para sentar, pois infelizmente seu quadril cresceu de mais para entrar ali. Analisa os preços mais em conta; lembra-se de que a conta de luz veio alta e não pode levar aquele chocolate que seu pai sempre comprava depois de muita insistência. Vai até ao caixa e passa o cartão. Aqui está seu recibo senhor, a moça lhe diz. Senhor? -você pensa- mas até ontem eu ainda era um menino... Pega as sacolas, diz 'obrigado' e vai para casa. Chega ao prédio e vê crianças correndo e gritando. Surge uma louca vontade de ficar ali observando-as conversar; falam sobre o colégio, parece que uma tal de Alice brigou com a Ana e 'estão de mal'. Chega mais perto, a curiosidade pede pra saber mais. Ah, entende, Alice disse um segredo de Ana a outra menina, não era pra ter dito. De repente surge outra menina; uma delas fica com cara de raiva, a outra diz para se entenderem, pega nas mãos de ambas e une-as como numa maneira de tentar reconciliá-las. Olham-se meio de esguela e como que num súbito, se abraçam, pedem-se desculpas e saem planejando a brincadeira do dia. Lembra do que pensava alguns minutos antes: sobre estudos, futuro, casamento, compras, contas. Entende que é igual a seus pais, com os mesmos 'problemas' que achava tão idiotas. Recorda do dia em que viu seu pai chorar- 'pais não choram, só eu posso chorar, eles são heróis, tão grandes! Têm que me proteger sempre, nunca podem morrer.'- havia pensado com lágrimas nos olhos só de imaginar sua vida sem eles. Percebe que daqui a uns anos estará no lugar do herói, tendo que se mostrar forte como gostava de ver seus pais. Os lugares estão sendo trocados, eu cresci, é, sou quase adulto- diz a si mesmo odiando ter que aceitar a idéia. Imagens de dez anos passam em sua cabeça, uma década de lembranças! Antes você tinha algumas vagas memórias de quando era menor. Agora tem uma dezena de anos em fotografias fixadas na memória. Sua vida tem um passado regado de inúmeras histórias, um presente volátil e esperanças de um futuro onde lutará para realizar todos os seus sonhos. Lembra de como era tão mais fácil quando era criança, pois não se prendia nem ao passado nem ao futuro, não pensava sobre o mundo e as pessoas; vivia, apenas, sem enteder o porquê, sem buscá-lo. Depois desse lapso, a realidade de um mundo falso - o qual vive- cai sobre sua cabeça. É hora de acordar de um sonho há muito acabado para um mundo onde jamais pensou em viver. Entra no elevador; pega as chaves e abre a porta de casa; vai até ao fogão e faz um café - amargo- como o gosto de ter crescido.

Acaná.

terça-feira, agosto 22, 2006

Furacão

Já ouvi dizer que a vida é um ciclo, uma longa estrada e, até mesmo, um caminho sem fim.
Depois de quase duas dezenas de anos de experiência, eu descobri que a vida é algo helicoidal, como uma mola de carro. Uma escada caracol! E, é isso, uma escada caracol; assim que a vida é.
Toda vez que me relaciono com alguém além daqueles beijos de uma noite e da única saída pra não ficar sozinho, eu levo o negocio a sério.
A companhia não serve apenas pra eu encostar minha língua com a língua dela ou fazer coisas proibidas.
Quando eu chego naquele estágio de que ficar parado, olhando; apenas olhando pra aquele alguém que te faz companhia; é a coisa que mais me faz bem no momento, eu percebo: estou subindo a escada!
Querendo ou não, a história se repete. As vontades, os desejos, palavras, toques, olhares... Sempre serão parecidos.
Sempre penso que ela vai ser pro resto da vida. Fico imaginando a cara dos nossos filhos, como seremos bem-sucedidos, financeiro e amorosamente.
Sempre imagino que, se um dia nós acabarmos, rompermos, como isso será doloroso e quão difícil será voltar ao normal.
Só que sempre acaba, “ela perdeu a chance da vida dela” e sempre me recupero. E sempre surge alguém pra ocupar aquele espaço vazio e cicatrizar aquela ferida.
E impressionante! Mas é aí que eu sempre tenho certeza de que a vida é essa escada caracol. Sempre subindo, sempre crescendo, querendo ou não, aprendendo, mas sempre indo naquele ciclo. Pois, por mais que sempre passe pelos mesmos lugares, eu sempre estarei uns degraus acima.
Só que essa escada acaba. Espero que, por mais que seja lógico, eu deixe de passar pelos mesmos pontos, mude um pouco sua rota. Para que o nono parágrafo deste humilde texto não aconteça.
E, é isso. Estou a espera do próximo amor da minha vida.


Cauã

domingo, junho 25, 2006

Postulação Atendida!

Como assim??? Eu morri mesmo?? Sinto-me diferente depois que fui dormir naquela hora. Pelo que eu me lembre eu não estava aqui. Eu já estou conseguindo andar de novo?!? Como eu saí da cama do apartamento?!? Acho melhor voltar pro meu quarto.

AQUELE ALÍ SOU EU?!?!? Caramba! Eu morri mesmo!...
...
...
...
Nossa! Sempre quis saber como seria isso!


Eita! É muito choro! Não imaginei que tanta gente assim poderia se preocupar comigo. A Ana está muito abalada, cara! Mesmo ela sendo minha namorada, a gente já não estava se falando direito depois que eu fui pro hospital. Ela nunca vinha me visitar! Eu senti tanta falta dela, e só agora que ela aparece?!? É... Ela devia estar sentindo-se culpada devido o acidente...
Minha mãe até que esta reagindo bem, eu acho. Lembro que foi com ela que eu conversei pela ultima vez. Coitada, sempre pensou que eu poderia sair dessa. Sinto-me até mal de mais uma vez não ter suprido suas expectativas. Elas se abraçaram?!? Desde o acidente elas não estavam se falando! Como elas são ingênuas... Nem imaginam o quanto isso estava me machucando, vendo parte das minhas bases divergindo-se, só assim pra elas se unirem, é? Que absurdo!
Vou lá fora dar uma olhada em quem mais se lembrou de mim.
Ahh... Meu pai! Que saudade! Vou lá falar com el... Ops, só me deram o privilégio de ver mesmo. Ficar observando é o que me resta...
Ele sempre foi tão forte! Tão forte mesmo. Eu sempre percebi que ele evitava algumas visitas a mim pra não me abalar com seu abalo. Ele está chorando! Passei a vida inteira esperando esse momento!! Nem quando me formei, nem quando ganhava medalha de ouro em tudo, ele não chorava, nem uma lagrimazinha sequer... Quem diria... Eu até pensava que nem ocupava tanto espaço no coração dele.
Olha! É meu irmão! Nossa! Que vontade de abraçá-lo! Ahh... Trocaria toda essa experiência só pra poder dar um ultimo abraço nele! Será que a gente chora depois que morre? Acho que sim... Posso não sentir as lagrimas, mas sinto um aperto naquele coração que parou.
Ele me falava tanto pra ter cuidado com essas coisas, sempre me alertou, não só ele, mas Ana também! Como eu fui besta, aquele meu orgulho de não ouvir o irmão mais novo resultou nisso...
Ahh... Eu quero abraçá-lo! Eu quero! Nunca pensei que sentiria vontade de voltar no tempo tão forte como agora! Só pra ouvir aquele conselho dele; não só aquele, como todos os outros que nunca dei ouvidos e depois vi que ele estava certo. Putz!
Hei, pra onde ele está indo?!? Vai ao banheiro? Sem falar com ninguém? Mais um que chora, imaginei que era isso que ele ia fazer... Chorando sozinho? Deve ser aquele orgulho de irmãos, que não querem mostrar seus sentimentos... Mas como eu gostaria dizer pra ele, pela primeira vez, que o amo tanto!

Caramba! Acho que não vou agüentar mais que isso! Já está me dando vontade de morrer de vez e não ter mais que presenciar tantas pessoas sofrendo por mim. Mas espera! E agora? O que vai ser de mim depois de tudo isso?!?!? Vou ficar vagando por aí igual um fantasma? Ahh, deixa isso pra lá, nem os grandes filósofos conseguiram explicar isso, eu é que não vou me dar esse trabalho agora, tenho coisas mais interessantes pra ver.

Sempre achei velório uma coisa muito chata e depressiva, se fosse eu, eu não iria no meu velório. Acho que não vem ninguém.
Esses caras fazem milagres! Como eu fiquei bonitinho de terno e branco feito gelo! Se bem que eu já estava quase dessa cor antes de morrer mesmo.
Ainda bem que Ana parou de chorar um pouquinho. Mamãe parece muito abalada agora. Não para de passar a mão no meu rosto, será que ela está com a mesma sensação que eu?
Opa! Está chegando gente!
Ahhh! A galera da facul! Po... Eles sempre disseram que iam me visitar qualquer dia, pena que chegaram tarde demais.

"Tarde demais" essa frase ainda não me sai da cabeça desde que descobri que estou morto! Engraçado como se eu tivesse feito algumas coisinhas antes de tudo isso, tudo isso seria diferente! Como eu demorei pra falar te amo pro meu irmão, como demorei a pedir desculpas pro meu pai, como demorei a desculpar Ana, como demorei a fazer a coisa certa pra mamãe... Ahh... Acho que estou chorando de novo.

Parentada em peso aqui! Isso está parecendo festa de família! Lá vêm as titias fofoqueiras! Até que hoje elas estão mais calminhas... Meus avós! Eu quase não os via! Achava que com tantos netos eles nem sabiam meu nome. Deveria ter dado mais atenção pra eles! Pelo menos eles tiveram consideração de vir aqui, eu nunca tive consideração nem de desejar feliz aniversario.

Ixe! Começou a lotar de gente! Nunca imaginei que tantos poderiam vir aqui. Será que eles realmente se lembram de mim? Po... Aquele carinha que estudava na minha sala nunca falava comigo! O que ele faz aqui? Se soubesse que ele ia com a minha cara eu teria feito amizade com ele! Raquel veio?!?!? NÃO ACREDITO! Ela jurou que não me veria mais, nem morto! Que ironia! Mesmo eu tendo terminado com ela a três anos atrás, eu sempre quis a sua amizade, mas ela me evitava, dizia que me odiava, quem diria... Não precisava de tudo isso...

Meus professores?!? Não acredito! Alguem deve ter pagado pela presença deles aqui! Com certeza eles não sabem nem meu nome, ou no máximo me conheciam como "CDF" ou "O garoto que pergunta em todo o final de aula". Acho que eu dei um pouco de valorização pro colégio deles. Só isso mesmo. Porque 1º lugar na federal não é qualquer um que consegue. Até que não foi tão ruim ver minha cara no outdoor uns dias; aqueles 15 minutos de fama como todo mundo diz, duvido que ainda lembrem quem era eu...

Cadê a galera do prédio? Cadê o Junior? Po... Ele não teve coragem de ir uma vez ao hospital pra ver como eu estava, mesmo depois do que ele me fez fazer. Eu o considerava meu amigão! Será que era isso mesmo? Quem não cansa é o Alberto! Depois de tantas vezes que eu briguei com ele por ele não parar de tentar me dizer o que era certo, tentar me fazer enxergar o mundo certo, como ele mesmo falava. Será que ele nunca percebeu que eu não gostava dele? Mas po... Ele parece muito mais triste que o Marcos, aquele cara que sempre pegava carona comigo. Nunca vou esquecer do Marcos! Foi com ele que eu fumei a primeira vez, experimentei maconha, altas experiências com esse cara!
Puta que pariu! Eu considerava o cara que só me fez fazer merda e odiava o cara que sempre esteve certo e quis abrir meus olhos? Sinto falta daquele que nem era meu amigo de verdade e esqueço de quem sempre esteve do meu lado. Mais ironias pra essa grande lista que vai se formando hoje, no dia que eu morri!

Está chegando ao fim do velório, as pessoas parecem abaladas mesmo! Não imaginava que seria assim... Contava só com a minha família mesmo.
Falar em família... A vez que eu mais sinto falta deles é a vez que já não posso fazer mais nada! Quanto tempo perdido em brigas, onde poderíamos ter resolvido a maioria das coisas com conversa e afeto demonstrado! Não imaginava que os amava tanto! Ahh.. Estou sentindo meu coração apertar!!! Será que isso é possível?? Ahh.. Pelo que eu já estou passando, é difícil dizer que algo é impossível.

Será que se eu entrar naquele caixão que está descendo pra 'sete palmos abaixo da terra' eu consigo voltar a vida?!?!? Ahh... Eu queria tanto dar um ultimo abraço em todos! Eu quero tanto! Por favor! Dêem-me essa chance!!! Já não quero mais ver tudo isso. Acho que essa curiosidade de ver o que aconteceria só me valeu de ver o quanto fui idiota! O quanto poderia ter feito diferente!
Meu irmão, eu te amo!!!!
Pai, Mãe, não esqueçam de mim! Eu amo vocês!!
Ahh... Que bosta! Eles não vão mais escutar!
Chegou a hora de dizer "NUNCA", chegou a hora de ir pro meu lugar, chega de me martirizar! Já estou dentro desse caixão e não vou mais sair... Agora entendo porque tudo isso é tão triste: Porque NUNCA mais vou vê-los novamente, porque NUNCA mais eles vão me ver, NUNCA mais os terei comigo... Eu que pensei que NUNCA ia dizer isso.

Todos vivem, todos morrem. Quem me dera ter entendido isso antes...

É com essa rosa vermelha jogada pela minha Mãe que me despeço, quem sabe eu não acordo de novo em outro lugar. E consiga a resposta de "De onde viemos e pra onde vamos". Mas espero que tenha ajudado no que consegui relatar. Quem me dera ter lido isso enquanto estivesse vivo, talvez não estivesse morto e triste AGORA.

Cauã

quarta-feira, junho 21, 2006

O mal que vem para algum bem

Engraçado como a vida contradiz nossos pensamentos, nossos planos.
Aquilo que a gente espera, que pensa, as vezes mesmo sem sentir, antes de fazer algo, depois é dado à prova real de que não era bem assim, ou então pensamos mal...
Engraçado é a maneira de que pensamos que podemos interferir em tudo que está ao nosso redor, que tudo gira em volta de nós. Onde na verdade o máximo que podemos fazer é apenas uma revolução interna.
Irônica, é a maneira que a vida nos dá a chance de aprender. Sabiamente ela nos mostra vários caminhos, nos leva a pensar no futuro, nos resultados que poderemos ter, ou não. E os erros são a grandes ferramentas desse aprendizado!
Sei também, que poucos conseguem enxergar esses erros, poucos conseguem reduzir seu orgulho pra poder aprender.
O sentimento que mais me assusta, não é o medo, nem a aflição. Esses, porém, juntam-se em mim quando o Orgulho tenta me atacar.
O Orgulho é plantado dentro de nós, ainda fetalmente. Crescemos aprendendo a não chorar, evitar de ser esculhambado por fazer algo errado. Onde o dever dos pais é de fazer com que os filhos errem pra mostrá-los que este não é o caminho certo.
Aprendemos a não ser o pior da turma, a não ser o mais baixinho, a não ter o pior cabelo, aprendemos a não ser o mais feio... Coitado daquele que tiver apenas uma dessas “más qualidades", será julgado. E quem é que agüenta tanta pressão?? Ai vamos começar a aprender a mentir pra nós mesmos, tentar esconder nossos "erros" dentro de nós, onde ninguém possa ver, nem nós próprios.
Porém, quem consegue ficar enclausurado, preso? Aqueles sentimentos só vão machucar, só vão roer-nos por dentro.
As pessoas têm o grande costume de comparar, ranquear, fazer top 10's de tudo. Grande fruto do orgulho, de querer escolher o melhor num lugar onde nada é igual.
Se você não é o primeiro, vai tentar ser, se não consegue ser, vai martirizar-se!
Eis que surge o grande problema. Todos são feitos pra não aceitar o que é real.
A grande mania de comparar, de não aceitar os erros vai fazendo uma sociedade cada vez mais estúpida!
Se a grande sacada é nós conseguirmos aprender com os erros, por que aprendemos a esquece-los???

Mas 'esquecer'?? Quem disse que eu esqueço?? EU aprendo com meus erros!! Você que não!

Cauã

terça-feira, junho 13, 2006

Salve salve


Hoje, quando saí de casa, quase fiquei tonta de tanto verdeeamarelo que vi. Parece que a cidade inteira se vestiu de Brasil; é, o patriotismo hoje é uma roupa que fica guardada no fundo do armário e só é usada de quatro em quatro anos, quando chega a tão esperada copa. É engraçado ver como o país pára para assistir a um jogo de futebol e não se mobiliza para exigir dos nossos governantes reforma agrária, educação e igualdade social. Se fizerem falta no Ronaldinho às portas do gol e o juiz mandar o jogo prosseguir, é capaz de algum jogador mandar matar o árbrito a cacetadas. Mas toda essa roubalheira de mensalão e caixa 2 aconteceu e ninguém nem gritou "Foi falta! Juiz ladrão!". Se o Brasil perder o hexa, é capaz de o país inteiro ficar de luto, mas então por que não o usamos quando vemos, todos os dias, morrerem pessoas na Rocinha e em tantas outras favelas do nosso país nessa guerra sem fim?

Essa relação do sentimento patriótico com o brasileiro parece um caso de amor, é um vai e vem danado e só tem lua de mel em época de copa do mundo. Fora dos assuntos futebolísticos, o povo não sabe nada; o assessor do irmão de Genoino aparece com 100 mil dólares na cueca e nem impedido está, ninguém vê; o bandeirinha, coitado, ainda tenta dizer algo, mas se o juiz diz que não foi, qual autoridade ele tem ali? Se o time é desse jeito, que dirá o técnico? Ah, esse fez grandes promessas de mudanças e sábias escalações, tanto criticou as jogadas do antigo técnico que, quando tomou posse, trocou por piores.

Nessa época só vemos as cores das florestas e do ouro; as cores da miséria, da fome, do desemprego e da injustiça já nem notamos mais, passamos despercebidos por elas cantando "vamos juntos vamos, pra frente Brasil, salve a seleção!", quando esquecemos de salvar a nós mesmos, nossa nação, nossos iguais.


Acaná.

domingo, junho 11, 2006

Aquele Olhar



Andando, pego um pedaço de uma foto no chão. Rasgada, continha algumas palavras e só uma parte visível de um rosto, devido à água que já tinha deteriorado o retrato.
Por sorte, os olhos ainda apareciam e eram acompanhados por “Funcionário do Mês”. No verso, a logo-marca da mesma empresa que servia o almoço pro meu escritório.
Ah! Aquele olhar... Seus olhos delineados por um lápis sutilmente marrom demonstravam certa tristeza. Não era algo explícito, mas as pequenas mínimas tensões sobre aqueles olhos levemente puxados e castanhos transmitiam muita coisa! Aflição e esperança contrastavam naquelas retinas fundas que pareciam me hipnotizar.
Incessantemente me pus a procurar a dona daquele olhar! Comprava nos três caixas diferentes de cada lanchonete, percorria o ‘drive-tru’, olhava lenta e fixamente o rosto de cada funcionária... E NADA!
Eu já não dormia direito pensando em como a procuraria no outro dia. Já tinha dispensado o almoço que me entregavam, porque preferia ir a cada unidade para achar a funcionária daquele mês.
Só que essa caça foi me cansando... Assim como meu trabalho fazia. Deixara de percorrer a cidade atrás daquela mulher e esperava, agora por sorte, encontra-la. Mas a sua foto continuava em minha mesa.

Certo dia, deixei de enfiar minha cabeça nos papeis por um instante e descansei por um breve momento até meu almoço chegar.
O telefone toca e mando o entregador entrar. Pra minha surpresa era uma mulher. O que pude perceber ao ver suas feições pela primeira vez. Ela vinha de cabeça baixa, eu a olhava com uma pontinha de curiosidade até. Mas em um súbito instante ela se assusta! Apavorada, deixa a bandeja cair e olha-me completamente assustada! Eu, com toda aquela situação não entendia nada e parecia mais pávido ainda.
Era ela! A moça dos olhos que tanto procurava! Ela era a entregadora, estava tão próxima de mim e não tinha percebido!

Após o susto, me perguntou o que a foto dela fazia lá. E expliquei tudo a ela. A seguir ela me disse que tinha rasgado a foto porque depois de muito tempo tentando, ela não conseguiu chamar a minha atenção e desistiu. Chorou, chorou e em um momento de raiva rasgou a foto, pois de nada servia tudo aquilo se ela não tinha quem gostava.

Hoje estamos casados. Ainda ando com a foto na minha carteira. E quem poderia dizer que por trás de um olhar haveria tantas coisas...


Cauã

sexta-feira, junho 02, 2006

Vida E Amor

Um dia hesitei em comparar a Vida com o Amor. Pura excitação! Como pode a Vida ser tão previsível? O Amor é tudo aquilo que já se têm; que já se conhece. Onde já lutamos pra tê-lo. Onde já se viu a Vida acomodar-se? Ser comparada ao Amor, onde só o que queremos em todos os momentos é a prolongação daquele pequeno instante. No Amor as aventuras são descobertas em um único local, ao lado de quem amamos. Já a Vida... Na Vida testamos tudo que vemos de novo, nos impressionamos por tudo maravilhoso, por muitos momentos não queríamos ter passado por aquilo. No amor tudo é válido e incomparável!
Talvez um dia, poderei comparar a Vida com a Paixão. Aquela que nos pega de jeito, que não sabemos nem disfarçar. A Paixão que nos deixa sem saber viver, que tira-nos todas as nossas experiências e ficamos sem ação daquela nova pessoa, daquela nova aventura. Mais uma hesitação minha querer deixar em dois lados diferentes Vida e Paixão! Onde uma depende da outra. A Paixão que nos faz querer viver quer buscar sempre algo novo. A Vida nos faz querer se apaixonar. Na hora em que nas nossas Vidas nos falta emoção é porque aquela Paixão já se foi.

Cauã

domingo, maio 28, 2006

Inanimado

Parado. É assim que eu fico... Todo dia eu vejo elas passarem, irem ao mercado, pagar contas... Mas eu não! Prefiro ficar aqui, parado, só olhando. E não me pergunte porquê. Porque eu não vou responder.
Assim sou eu, não gosto de me mexer, apenas olhar... Mas não pense que eu reflito, eu apenas olho mesmo! Olho porque gosto de olhar, mas é claro, olho sem pensar.
Meu maior competidor é o poste. Sempre competimos pra ver quem é o mais parado, o mais frio.
Ele é muito bom nisso. Ás vezes me pergunto como ele consegue ficar tão parado...
Ultimamente eu tenho feito intimidades com ele, só que ele é muito desinteressante e parado.
Como em toda boa competição não pode haver muita comunicação, eu tenho o evitado. Tem vezes que ele fala demais sobre nada.
Agora não me enche e deixa eu voltar a ficar... Parado.

Ass: convidado

quinta-feira, maio 25, 2006

O salto

Quando estava a caminho do colégio, aconteceu um fato que chamou a minha atenção. Havia chovido muito, e por isso os buracos das calçandas tinham se tornado verdadeiros "lagos artificiais". Estava caminhando, até que reparei em um menino que vinha com sua mãe na minha direção. Ao meu lado havia uma dessas poças enormes cheia de água suja e terra. Ela estava mais perto de mim, e assim que a alcancei, desviei e continuei a olhá-los. Quando ele chegou perto da poça, parou diante dela e a contemplou por um momento, logo depois olhou para sua mãe, que o retribuiu com um olhar de desaprovação. Com um sorriso malicioso no rosto, olhou para os lados, para a poça, e pulou! Mas caiu, havia calculado mal, dera um passo maior que a perna, e em conseqüencia disto, molhou o pé e espirrou água para todos os lados. Porém, ao contrário do que muitos podem pensar, ele se ergueu, sacudiu o pé e sorriu para sua mãe. Que coisa feia menino! Você viu o que você fez? Está todo sujo! - disse ela. Todos em volta concordaram e olharam para ele com ar de punição. Eu, ao contrário deles, sorri, pois vi nessa atitude a determinação e a coragem frente à um obstáculo. Ele enfrentou o medo e a possível punição de sua mãe, e pulou. Sua mãe escolheu o caminho mais fácil, o de desviar, assim como eu e muitos outros. Escolhemos porque sabemos os efeitos de nossas ações e analisamos nossas possibilidades. E ficamos sempre nisso, desviando dos problemas e dos desafios, nunca o enfrentamos, pois sabemos que temos a chance de cair. Sim ,cair! Por que não? Por que não ter a determinação do menino e pular? É mais cômodo ficar onde estamos, na estabilidade da vida que segue e nos leva para onde quisermos, fazendo com que sejamos escravos de nossos medos. Cadê a força de vontade e o otimismo? Pelo visto ficaram guardadas na caixa de Pandora junto á esperança. O menino errou o cálculo sim, e daí?! Qual o problema de errar? Os erros não servem para nos ridicularizar, e sim nos impulsionar a tentar de novo, e a tentar, e a tentar... com as tentativas, as pernas crescem e se fortificam para a vitória de um próximo salto. E se a queda vier, levante e sorria como um menino! Muitos irão humilhá-lo, mas não ligue, corra atrás das borboletas amarelas!
Continuei a andar e a olhar para trás, por mais que sua mãe brigasse, o menino continuava sorrindo, de certo pensando, "da próxima vez eu consigo!". A minha vontade era de ir lá e dizer "estou contigo".

Acaná.

sábado, maio 20, 2006

Enquanto a Cidade dorme


Lá pras seis horas da tarde, a cidade ja vai preparando-se pra dormir...
Seus olhos vão fechando, o céu vai escurecendo...
O sono bate, os carros passam apressados em busca de suas garagens quentinhas, as luzes dos sinais de transito ficam mais nítidas, os postes começam a ter seu devido valor e todo dia uma nova vida começa.
Há alguns que entendem como se o dia terminasse apartir dalí. Para outros, o dia está apenas começando...
Mais tarde, ja percebemos que a Cidade ja foi pra cama. Aqueles zunidos os seus ouvidos já são menos estridentes, nas suas veias, o sangue ja não passa tão apressado e seu corpo continua trabalhando, com menor intensidade, mas continua trabalhando.
É nessa hora que nos deparamos que existe algo muito maior que nós. Algo que comparando (malditas comparações), percebemos o quanto somos ínfimos a esse belissímo Macro que nos rodeia.
O porteiro, aquele que, provavelmente deve ter trabalhado o dia inteiro, rende-se ao sono na sua portaria. Nem uma programação altamente interessante de câmeras internas o atrai. Esses que tem que enganar a si mesmos que algumas grades e laminas de vidro o protegem de balas e bandidos. Esse, que tem que parecer acordado para todos os que o vêem, pois todos jogam toda a sua sensação de segurança naquele que não tem nem como dormir direito.
O vigia roda as ruas com sua bicileta, seu cacetete e seu apito. Fazendo sinfonias que só ele vai escutar. Grande apito esse! Gostaria eu de poder ter uma função de tanto equilibrio e polaridade como "O Apito do Vigia". Ao mesmo tempo que acalenta os moradores aflitos daquela Cidade que dorme, ele tenta afugentar aqueles que procuram seu trabalho na casa dos outros sem autorização durante a madrugada.
O feirante começa a arrumar suas tarefas frutíferas matinais. O gatuno começa a ir em busca de trabalho. O individuo que faz a justiça das ruas começa a ficar menos tranquilo...
E aqueles que movimentam a cidade vão vivendo sua propria vida.
As vezes a vontade de poder voar baixo nas ruas vazias e inocentes durante a madrugada é suprida pelo desejo de admirar aquelas cenas únicas.
O brilho ofuscante dos postes, o reflexo verde, amarelo e vermelho dos sinais nas ruas, as estrelas que nos conduzem por nossos caminhos, os sons, que quando resolvem apareçer, vem tão distantes que parecem canção de ninar...
Glorificado é aquele que vive como uma Cidade: Pronta pra servir a todos e mais bela enquanto descansa.

Ê viva as Madrugadas!!

Cauã

quinta-feira, maio 18, 2006

Que Deus é esse?

"Opus Dei protesta contra 'Código da Vinci'
RIO - A Opus Dei divulgou um comunicado de protesto contra o filme "O Código da Vinci", baseado no livro homônimo de Dan Brown. Segundo a prelazia, em nenhum momento a película de Ron Howard avisa que é inspirada em uma obra de ficção.
"O Código da Vinci", blockbuster protagonizado por Tom Hanks, lida com teorias polêmicas para a Igreja Católica, como o fato de que Jesus Cristo teria tido um relacionamento com Maria Madalena e prolongado sua linhagem até os dias atuais.
A representação da Opus Dei no Brasil não programou protestos para a estréia do filme, amanhã em circuito nacional."


Por que nós não podemos tirar nossas próprias conclusões? Pra que proibir a exibição de um filme que vai contra os dogmas da Santa Igreja Apostólica Romana? Sempre Ela, que em nome de Deus diz ser a única Verdade absoluta, e usurpando essa verdade fez as Guerras de "paz", para "salvar " as almas do inferno e conduzi-las ao paraíso. Em nome de Deus fez dos negros africanos, escravos. Fez daqueles que julgavam "bruxos", churrasco na fogueira. Lucrou em cima daqueles que compravam seus lugares no "céu", vendendo as milhares de coroas de espinhos que Jesus usou e outros milhões de litros derramados por Ele na cruz. Que Deus é esse? Pra mim Ele tem outros nomes: poder, dinheiro, ganância, corrupção. E esse Deus não está no céu, há vários deles em cada esquina do mundo.

Acaná.

quarta-feira, maio 17, 2006

Relatos de Um Velho Aprendiz

Ao auge do meus noventa e nove anos posso dizer que consegui aprender algo nessa vida. Meu maior dilema é entender porque os dias demoram tanto pra passar e ao mesmo tempo a vida é tão curta...

Quem me dera poder aproveitar esse dias tão extensos pra fazer tudo que planejava em minha vida. Dádiva divina seria se pudesse aproveitar cada segundo. 'Aproveitar', que eu digo, seria lembrar, reconheçer, saber o quanto aquele mísero segundo mudou minha vida.
Ahh os segundos... Quanta falta eu sinto deles! Quando você começa a ter como referência de passagem de tempo as décadas e os anos, aqueles segundinhos viram irreais. Que graça tem a vida quando tudo já virou rotina? Quando tudo já é normal? Depois de 99 anos, é raro acontecer algo que me surpreenda. É lógico que essas guerras, a ignorância do homem e todo esse desrrespeito com tudo e com todos me surpreende, um pouquinho, mas surpreende.
Mas eu digo é das coisas boas!!! Mesmo que o sol nasça todos os dias "diferente", pra mim ele já tem o mesmo brilho. Mesmo que a Lua seja cada vez mais cheia, pra mim ela já não passa de um ponto no céu que os sonhadores não cansam em alcançar. Os sonhos, que antes atormentavam minha mente com os questionamentos se eram possíveis ou não, esses eu já me esqueço logo quando acordo. É dessas coisas que eu sinto falta. Ao menos uma coisa boa: Eu sinto falta de algo.

Sinto falta do carinho, que antes era mais intenso. Sinto falta das companias, que antes eram mais espontâneas. Sinto falta do amor, que antes era a razão do meu viver. O Mundo era maior, a proximidade era menor, as palavras eram melhores, o connhecimento era pior, os sentimentos eram verdadeiros, as uniões eram falsas, a criança era feliz, o adulto ficava triste... Muita coisa mudou! Ou não...

O que quero passar com esse epitáfio, é que aprendam a viver com base nos momentos contínuos. Não esqueçam de vocês mesmos. Não deixem o EU próprio de cada um de vocês ir embora. Vivam aqueles segundos, surpreendam-se com as mínimas coisas, sejam loucos, demostrem os sentimentos, esqueçam o orgulho, ouçam mais música, leiam mais textos, escrevam mais poesias, falem mais de amor, discutam mais a política. Ensinem! Aprendam!

Uma coisa nessa vida eu aprendi!
Ainda tenho muito o que aprender!

Cauã

terça-feira, maio 16, 2006

O que é o amor?

Mãe,o que é o amor? Ah, minha filha amor é o sentimento que eu sinto por você, e é desse tamanhozão aqui oh! Foi a primeira resposta que ouvi na minha vida sobre essa pergunta. Ah, deve ser muito grande então, se mamãe disse que era tão grande como aquela porta, é porque deve ser mesmo! Tentei materializar o amor, como uma porta, sim foi a primeira vez que o materializei. Sempre que minha mãe dizia "te amo", imaginava o tamanho daquela porta na minha cabeça, e assim foi até meu primeiro namorado dizer que o amor que ele sentia por mim era tão grande como o mundo! Nossa, é maior que a porta da mamãe - pensava. E em resposta eu dizia - te amo também, do tamanho mundo- sem nem saber o que de fato era. E essa foi a segunda vez que o materializei. O tempo foi passando e a forma do amor em minha vida foi mudando, depois de enorme como o mundo, foi da intensidade de um soco bem forte, como a beleza da lua, da eternidade da alma.. e assim ele foi sendo personificado. Até um dia em que discutia com um amigo sobre "o que é amor" e ele me disse ser NADA.

Como nada? Não sabes que o amor é do tamanho do mundo, da intensidade de um soco bem forte, como a beleza da lua e da eternidade da alma? - disse como se ele tivesse dito que 2 mais 2 eram cinco. Ah, mas o amor não se materializa! Ele é um sentimento, é indecifrável, inexplicável, indescritível e não personificável! - retorquiu ele, como se eu tivesse dito um absurdo. "Amor é ferida que dói e não se sente, é chama que arde sem se ver, é um contentamento descontente (...)". Não são essas as palavras de Camões?! Até ele personifica, porque eu não posso? - indaguei. Todos tentam, todos poetisam, declamam, gritam aos quatro ventos saber desse sentimento que ninguém vê e ninguém toca. Há aqueles que o subestimam e dizem só ter um na vida - os românticos-, há outros que dizem 'te amo" como se diz "oi, tudo bem?" - os sentimentais- e alguns que escolhem a quem vão amar e porquê - os racionais. Como viste há várias derivações de visões sobre tal. Mas ninguém sabe ao certo o que é, porque não é para saber. Há mistérios que não devem ser decifrados e o amor é um deles.

Acaná.