quinta-feira, janeiro 31, 2008

Resposta sem solução

A velhice é algo que nos consome. Experiência é o resultado de uma equação entre o tempo e a sabedoria. Quanto mais gastamos um, adquirimos outro.
O tempo nos corrói, nos maltrata em pedaços, lentamente. E demora uma vida pra nos matar.
Com o tempo, aprendemos a desaprender algumas coisas. Ou, até mesmo, deixamos de nos importar com alguma. A Sabedoria e a Experiência tem seus pontos fracos. De tanto nos ensinar como as coisas são e acontecem, quando estamos um pouco mais experientes, perdemos o gosto, a surpresa, o sentimento do que gira ao nosso redor.
Nossa! Como é difícil descobrir coisas novas depois que já se viu de tudo!
As bocas perdem o gosto, os movimentos perdem a criatividade, as pessoas deixam de ser interessantes e o tempo torna-se previsível. Tudo torna-se previsível e, se não for, nosso orgulho não nos deixa mais acreditar que foi uma surpresa.
Com o tempo, os sentidos ficam cada vez mais insensíveis. A chuva já não é sentida do mesmo jeito, não desliza a pele como antes, a Lua já não é mais tão branca e brilhante, o mar não faz mais barulho, o vento não desarruma mais os cabelos, o açúcar não tem mais o mesmo gosto e as pessoas já perderam o perfume.
Eis que vem à tona uma antiga incógnita: Envelhecer tendo experiência ou viver a infantil juventude eternamente?
Creio eu, com a minha inexpressiva experiência, que a resposta não está na escolha do caminho a seguir, mas, sim, na busca por novos fatores que venham compor àquela equação.
Então corramos procurando novos fatores, novas somas, subtrações, multiplicações e divisões. Que essa equação não seja simples, que seja bastante complicada, que nós, experientes ou não, nunca encontremos o resultado. E que todos os novos cálculos, respostas e soluções sejam novidade!

Cauã

terça-feira, janeiro 22, 2008

Evolução obscuramente explícita

Hoje tentei escrever algo legal, mas não consegui.
Vi que isso está explicitando demais minha vida, contando minhas maiores fraquezas, meus maiores defeitos... Vou começar a escrever sobre minhas qualidades. Coisas que eu acho legal em mim, fazer um auto-merchan pra aqueles que ainda gastam tempo lendo isso.
Vou parar de contar meus segredos, pra que algumas pessoas descubram, e parar de escrever coisas que posso contar pessoalmente.
Mas, sinceramente, não consigo! Sinto necessidade de deixar meus podres para que toda internet veja, pra que, daqui a alguns anos, eu veja e consiga avaliar o quanto eu evoluí, se as minhas idéias de hoje farão sentido amanhã.
Tenho grande afeto as minhas coisas, não consigo me desvencilhar de alguma coisa que seja minha com facilidade. Então descobri que além de escrever para os outros, para que os outros comecem a descobrir meu eu mais obscuro, eu escrevo pra mim, para que eu me lembre do meu eu mais obscuro e saiba o quanto eu evoluí amanhã.

Sinta-se a vontade de saber quem eu sou, pois você saberá o quanto eu evoluí. Não perca por esperar.

Cauã

Tapas

"Ave falconiforme, distribuída do Panamá à Argentina, de coloração pardacenta mais escura no dorso e na cauda, esta com faixas claras transversais; tem o lado inferior branco, uma mancha clara circundando o pescoço, uma faixa negra em torno dos olhos, prolongando-se até a nuca, e o alto da cabeça branco. Ave de rapina que ataca especialmente os ofídios".

Um dia éramos aves de rapina, cheios de palavras a correr nos finos vasos sanguíneos dessa ave atroz. Mas o nosso ataque era bom, leve, utilizava símbolos para expressar nossa paixão pela vida, nossos desafios e o mundo - o nosso mundo,visto por dois pares de olhos que olhavam para o mesmo horizonte perdido. Até que eu percebi as palavras transbordarem em erupções cada vez mais constantes, cheias de uma sensível sabedoria, e um dia resolvi criar esse mundo de representações, onde você e eu expressaríamos o nosso mundo..

Outro dia me dei conta dos rumos em que voamos e, com espantosa nostalgia - essa a que se refere -, notei o percurso contrário que tomamos. Percebi ainda, com maior espanto, a enorme distância que separa nosso vôo e o quanto a sua ave encosta o bico no peito e só se dá conta da sua individual existência. Ela diz andar em corda bamba, assume que o sentido do seu vôo está apenas em fazer com que os outros pássaros a perceba e ame e, por fim, nota esse coração de pedra e frio que agora bate em seu peito. Confesso a minha decepção, mas animo-me em ver uma possível revolução! Estou batendo na sua cara para que você também bata na minha, dou-lhe minha face, meu peito, minha arma. As minhas verdades - se é que as tenho - parte são dúvidas, parte encantamento, parte tristeza, agonia, felicidade, contradição! São elas as impulsionadoras daquilo há muito guardado sob minhas asas. Se as suas verdades são aquelas que me fizeram decepcionar, então enxugo as lágrimas e o compreendo do jeito que é, ou se tornou – tudo sempre muda; mas se elas são apenas máscaras de verdades muito mais simples, então sim, dou-lhe todas as tapas à cara e digo-lhe que um dia, quando as quiser tirar, estarão pegadas à cara.

Primeiro senti a raiva de não vê-lo mais voar comigo - ou será que fui eu quem desviou o caminho? Caminho.. parece que há um certo e um errado, não, não há. Só chegou um dia em que as nossas diferenças foram maiores que as semelhanças. Como é difícil aceitar isso! Mas depois da raiva vem a aceitação, a plenitude da realidade se mostra boa, simples de ver: estaremos sempre voando, o horizonte ainda nos espera, o que mudamos foi o modo de chegar lá. Então o amor fica guardado e os álbuns fotográficos gravam as melhores memórias. "Tudo acaba, mas não completamente" - disse certa ocasião.

Agora bata em mim, sempre senti falta da sua raiva.
Acaná.

Pensaralhada

Essa overdose de textos deve ser culpa da proximidade do aniversário. Pensamentos turbilham, todas as avaliações de mais um ano que passou vêm a tona e a vontade de soltar milhões de gritos palavreados é imensa.
Vou dormir, tchau. Feliz amanhã

Cauã

Revolução Despedradeira

Há algum tempo que meu coração empedrou. Não sei exatamente se existe esse verbo do mesmo jeito que não sei exatamente quando foi que meu coração ficou assim.
Só sei que não foi algo repentino, foi gradual, coisas e coisas acontecendo, pensamentos e pensamentos reverberizando, atitudes e atitudes se fazendo... Até que ele empedrou. Puf. Virou pedra.
Já não consigo mais amar, gostar com vontade, querer tudo pra mim com intensidade. Aquela força de vontade de antes virou pedra, está estática. Está tudo preto-e-branco. Lógico, tudo limitado ao setor do coração. Virou um ministério sem uso no governo chamado eu.
Começou uma revolta, uma desorganização total. Acabaram-se os escrúpulos, cairam as taxas de afetividade, o preço do carinho despencou e a sinceridade comigo mesmo bateu os recordes de inflação. A Temperatura corporal beirou o zero absoluto, mas já relatei isso anteriormente.
Só que, como todo governo, a ditadura tinha uma fraqueza: os revolucionários.
Os revolucionários vieram de longe! De dentro do próprio governo - que estavam escondidos em gabinetes abandonados no fundo do corredor - de fora, de outros governos contrários à essa ditadura de pedra, e até de partes que eram aliadas que cansaram daquela mesmice sem graça e sem tesão.
Essa revolução começou pequena e tem ganhado grandes proporções. Os revoltosos, apesar da classificação, são pacíficos, querem dominar o governo calmamente e espalhar suas idéias pelo mundo. É, o mundo. Não precisa ficar só aqui, eles pensam macro, e não micro.
Hoje foi a sua primeira manifestação pública e explícita. Fizeram o mundo tremer, Eu tremeu. Postaram milhões e milhões de faixas coloridas e nostálgicas com lembranças amorosas que fizeram o povo - que já estava acostumado com aquela pedraria - sorrir. Cenas de amores intensos, declarações de amor e olhos esperançosos foram exibidas nos principais telões do país.
Não sei o que vai ser daqui pra frente. Com essa grande revolução começando, pode ser que o governo mude algumas coisas, tome atitudes drásticas, recorra à outros governos para que o ajude... São várias as possibilidades. Mas algo me diz que o mundo está voltando a ser colorido de novo.

Cauã

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Pedaços de 2007

Se tem uma coisa que 2007 me marcou, foi a sua ida, o fato dele passar e nunca mais voltar, o fato de nascer no dia primeiro de janeiro e morrer no dia trinta e um de dezembro. E isso. Nada mais.
Assim como 2007 foi sem deixar mágoas, choros ou dor, ele me ensinou a viver assim diante de todas as despedidas que passei em 2007.
Em 2007 aprendi que tudo que vai, volta. Se não volta, não tem porque eu querer que volte.
2007 começou com mais uma despedida repetida que não é bem uma despedia e teima em acontecer de semestre em semestre (ta, ninguém vai entender). E nessa despedia eu decidi que seria o último tapa da saudade mortal que eu levaria na cara. Se essa despedida acontecerá mais algumas vezes, vou esperar pelo tapa violento na definitiva.
Em 2007 também conheci muita gente. Antes, quando eu conhecia muita gente e gostava muito dessa gente e depois me separava dessa gente, era horrível. Chorava, ficava deprê e depois passava. Tinha que passar.
Em 2007 eu descobri que as pessoas que realmente valiam o meu choro antes de 2007, eu reencontrei no bendito 2007. Então, pra quê chorar uma despedida se um dia vai ter recepção?
Então, pra quê chorar uma despedida se um dia a dor vai passar e não vou ter outra recepção?
Pra quê? Por que? Não tem. Não precisa. Não faz, deixa sem.

E foi assim que 2007 foi: sem choro, sem despedidas, muitas recepções e muito tempo aproveitado no lugar do choro.
Aprendi a dar valor nos encontros e não pensar em como vai ser minha vida depois, sem aquela pessoa. Aprendi a valorizar o momento, o fato de ter encontrado, devido a magia do destino, aquela pessoa. Aprendi que as pessoas que realmente me marcam, não vou deixar de vê-las, um dia, qualquer dia, mesmo que tenha despedida, eu vou reencontra-las.
E, principalmente, aprendi a não esperar muito do futuro, pois se o passado me pôs num bom presente, futuro é conseqüência.
2007 me fez saber distinguir as pessoas que realmente vão tirar um pedaço do meu coração e leva-lo consigo, daquelas que me deram um pedaço do seu coração e eu vou leva-lo comigo.

Depois de 2007 eu faço de tudo pra que todas as pessoas que eu conheça me dêem um pedaço do seu coração e que eu possa dar à elas um pedaço do meu. Sem choro.

Cauã

Estranho...

Hoje foi um dia de bombardeio de emoções, de dúvidas, de coisas estranhas. Bem estranhas.
Eu gosto de coisas estranhas. Me acho estranho. Eu me sinto bem por me achar estranho. Mas gosto de me achar um estranho não tão estranho porque todos são um pouco estranhos e sempre vão ter um pouquinho da sua estranheza, assim, lhe deixando menos estranho.

Quando se repete muito a palavra "estranho" ela parece mais estranha do que já é.

Cauã Estranho

sábado, janeiro 19, 2008

Todo dia de manhã

Nostalgia é um troço complicado, né? Diferente da saudade, ela existe em diferentes línguas. Nostalgia não é saudade, nostalgia é sentir falta mesmo, é abstinência, é viagem no tempo, é fogo-amigo, é ferida aberta que a gente não quer curar, é um tiro no próprio pé.
Sinto a saudade como algo não muito intenso mas sofrido. É aquele sizo nascendo que dói pouco, mas por muito tempo.
Nostalgia eu vejo diferente. Nostalgia é aquele soco no estômago, que te deixa sem ar, sem equilíbrio e sem reação. Nostalgia é bombardeio de saudade, é explosão de dor. É tipo um trem bala, que vem e vai rápido e leva e traz muita coisa.
Como eu disse, nostalgia me faz viajar no tempo, me faz acordar de vez em quando.
Nada como um dia nostálgico! Dia nostálgico deveria ser justificativa de falta no trabalho. Ou então, assim como temos um dia pra ir à igreja e um pra ir ao motel, deveríamos ter um dia pra nostalgiar. Desanuviar, ficar olhando pro céu, pras paredes ou para a estante... por horas. Dia de saber que alguém, em algum lugar do mundo, está tendo um turbilhão na cabeça e lembrando de você com muita vontade. Dia de por todas aquelas músicas gays ou alcoólatras no winamp e ligar pra todo mundo. Tipo, companhias telefônicas reduziriam as tarifas. "Do seu celular pra qualquer telefone do mundo você liga com tarifa reduzida nos fins de semana e madrugadas. Dias nostálgicos é de graça!!". Imagina como o mundo seria melhor.
Ninguém nostalgia momentos ruins. E se acabar ocorrendo, vai ser com aquele sorrisinho no canto do lábio.
O Decreto do Dia Nostálgico seria a melhor maneira de fazer as pessoas pararem de reclamar que a vida delas está passando e elas não percebem. À cada semana elas poderiam nostalgiar todas os bons acontecimentos. Nostalgiar marca na memória. Eu ainda consigo lembrar de todas as coisas dignas de se nostalgiar.
Isso evitaria brigas de namorados porque um ao outro saberiam que poderiam pensar no ex, mas só naquele dia, e pronto. Evitaria aquela conhecida ressaca moral também, com o costume de nostalgiar, nós nos desprederiamos do hábito de taxar as coisas como boas e ruins. Pessoas começariam a ter o hábito de achar tudo bom, pois tudo que fosse lembrança seria nostalgia.

Enquanto o decreto não vira lei, eu vou aqui treinando, me dando um tiro no pé e não fechando a minha ferida, nostalgiando, todo dia de manhã, as besteiras que fiz ontem.

Cauã

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Frio

Tenho um sério problema.


Na verdade não sei se é um problema ou uma puta de uma qualidade! Às vezes eu acho que sou abençoado por ser assim. Às vezes, durante a nostalgia das besteiras de ontem, eu me sinto um lixo.
Meu grande problema é não saber tudo sobre os outros. E isso me deixa bastante agoniado. É, só eu. Arram.
Tá, vou começar a ser frio. Primeiro eu quero saber se todas as pessoas conversam muito consigo mesmas. Mas eu digo, tipo, MUITO. Porque eu sou assim. E, sendo assim, eu já peguei abuso de mim mesmo. E quando estou conversando comigo falo as coisas na minha cara, sou muito verdadeiro. E muita verdade é sinônimo de maldade.
Cara, eu sou um cara muito mau quando converso comigo mesmo. Não tenho escrúpulos, 'falo mermo', penso o que é pra pensar e piso nos pensamentos que tiver que pensar. Sei avaliar quando fui falso e quando fui verdadeiro, de quem eu devo me afastar e de quem eu devo me aproximar... O que eu tenho que fazer ou falar pra alguém se interessar por mim, como eu tenho que agir pra reverter uma situação... Sério, tenho medo de mim às vezes.

Só não tenho medo toda hora porque sei que sou humano. E nem sempre consigo fazer tudo aquilo que eu e meu eu frio e calculista planejamos. Algumas vezes o coração - sim, o coração! - manda no pedaço. Daí, cara, nem queira ver o que acontece. É uma baita de uma briga louca, cheia de bombardeios de pensamentos e tiros de insônia.

Eu acho isso tudo bom. Todo dia, toda hora, a todo pensamento eu estou brigando comigo mesmo e me conhecendo cada vez mais. Mas estou ficando viciado em ser verdadeiro comigo, aprendi a não me ofender com o que eu falo pra mim. Daí eu fico com medo. Mas medo é bom. Eu fico na dúvida se tudo isso é bom ou ruim.

- Porra, Maurício, já ta falando a mesma coisa?
Foi mal, gente, tenho que ir porque eu to aborrecido e sem paciência. Eu vou lá falar comigo e volto qualquer hora.
Feliz amanhã

Maurício e Cauã

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Parece

Às vezes parece que eu fico algumas épocas, meses, talvez dias ou horas, dormindo. Meio que sonhando acordado. E às vezes parece que eu acordo. Parece que eu passei por certo período de tempo e não percebi. Parece que certas coisas eu não vivi. Parece que ainda não tinha percebido que certas pessoas eu tinha conhecido ou gostado. Parece que algumas coisas tinham perdido o gosto. Parece que alguns amigos eu esqueci.
Mas meus acordares, nessas vezes que durmo acordado, parecem muito chocantes. Mas são aqueles choque de reanimação que dão um baita dum impacto e depois vão me fazendo sentir aquela dor, no caso, angústia.
E acho que esses acordares me ajudam às vezes a me acordar acordado. Mesmo não me fazendo viver o que parecia não ter vivido; mesmo não me fazendo perceber o que eu parecia não ter percebido ou gostado; mesmo não me fazendo achar as coisas que pareciam que eu tinha perdido; eu gosto deles.
Querendo ou não, tudo isso é bom. Os dormires me ajudam a, quando acontecerem os acordares, aprender a não dormir mais. Já que nasci dormindo...

Cauã