terça-feira, fevereiro 26, 2008

Season Finale

De tempos em tempos uma idéia fica mais fixa na minha cabeça: A vida é um ciclo. Não é novidade nem mesmo surpreendente eu escrever sobre isso aqui, devido à cada vez que eu penso nisso, é porque essa idéia está se concretizando na minha cabeça.
Ainda está em fase de observação, mas vou lhe revelar uma idéia que, como disse antes, cada vez mais fica certa pra mim. Existem temporadas do ano, anos de décadas, décadas de séculos e séculos de milênios que se destacam por ser épocas de amor extremo ao próximo e épocas de absurdo amor pessoal.
Algumas vezes por ano eu noto que não sou só eu que fico mais carente, mais preocupado com alguém, mais afetivo, resumindo: querendo companhia permanente. Assim como existem épocas que eu fico louco, nada importa pra mim a não ser eu mesmo, é o período de mais surtos de pensamentos, beijos na boca, porres, e tudo que seja intenso.
É Fato! Nunca deixou de acontecer do mesmo jeito que nunca deixou de repetir. Estou esperando mais alguns anos pra concretizar essa teoria na minha mente e ganhar algum nobel de experiência própria por isso.

Só que, além de tudo isso, mesmo entendo cada vez mais sobre mim mesmo, em como eu ajo e penso enquanto a minha vida anda, o que eu fico mais maravilhado é como essa vida cíclica me surpreende à cada "repetição". Criatividade assim nem o melhor roteirista da melhor série não conseguiria ter. Ao mesmo tempo em que tudo se repete, tudo muda. O mundo inteiro vai ficando diferente e a minha história vai ficando cada vez mais interessante!
Nesse meu estudo pessoal sobre a minha vida repetidamente diferente, a primeira coisa que concluí foi que o maior entretenimento que eu posso ter é minha própria vida!
Acabei me viciando nesse programa e descobri que estou naquela temporada de transição, de greve de roteiristas, troca de personagens, mudanças de sets de gravação e horário de exibição. Ou seja: Uma mistura de tudo onde tudo tem seu lugar certo. E eu, como ator principal, vou tentando encaixar tudo no seu lugar. E, pelo que tudo indica, a próxima temporada vai ser tão legal como foi a anterior!

Cauã

sábado, fevereiro 16, 2008

Estupre você mesmo então

O que eu tinha que fazer agora era exatamente não pensar em pessoas. De repente, me surgiu uma raiva absurda de todas elas, daquelas de mãe brigando com filho, onde qualquer coisa vira motivo pra mais esculhambação. Que nenhum ser-humano venha pra perto de mim nesse momento. Explodam-se todos! Explodam-se agora e se reconstituam daqui a umas 2 horas, ou menos.
É nessas horas que eu vejo que sou um cara calmo. Ou no mínimo muito solitário que não consegue ficar sozinho em casa e começa a surtar.
To aqui, na minha e vem um monte de neuras e neurinhas. Mas com as neuras que me deixaram surtado, as neurinhas são a pior coisa que pode acontecer. É uma vontade absurda de madar um 'vai te foder então' rapidola, pronto, simples assim, se tivesse feito estaria bem melhor agora.
Vão se foder então! Vão bem rápido, explodam e voltem depois, só pra vocês saberem que tem que se foder agora pra minha raiva poder passar.

Errado

A pessoa que eu conheço melhor sou eu mesmo. Sou meu melhor amigo. Me conhecendo bem, vejo que sou a pessoa com mais defeitos que eu conheço, tenho todos os defeitos que eu posso ter.
De todos que eu conheço, eu sou o cara que sei que mais errou na vida. E bote erro nisso! Conseqüentemente, sei que conheço o cara que mais aprendeu na vida. Erros são provas de ensino, experiência de vida, ferida aberta... Sei que nem sempre tirei 10 nessas provas, sei que não sou experiente o suficiente - se é que existe isso - e sei que não consegui curar todas as feridas, mas sei que já errei bastante.
Sei que ainda teimo em querer todos os amigos do mundo, sei que meu cérebro ainda perde pro coração, sei que sou muito egoísta às vezes, mas sei que já errei muito.
Sei que já caí e levantei várias vezes, sei que já acertei depois de errar muito, sei que sei que nada sei, sei que já errei bastante.
Depois de errar muito, depois de aprender muito e depois de pensar muito, aprendi que ainda tenho que errar muito mais.
Por isso digo que sou um errante nato, que tenho orgulho de meus erros e que tenho um grandes defeitos. E gosto de errar, procuro, fatalmente, errar todos os dias.
Sei que todos meus defeitos valem a pena pelo simples fato que vão me fazer errar e sei que todos esses erros me fizeram ser meu melhor amigo e ver que sou a melhor pessoa que eu conheço. E que a perfeição fique sempre próxima à cada erro, mas nunca mais perto.

Cauã

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Nem sempre sozinho no escuro

Sempre quis entender as Madrugadas. Elas tem algo que nem um dia inteiro consegue ter. Talvez seja por, nas madrugadas, todos se sentirem meio especiais, onde todos dormem, você está lá, acordado, observando-a, compartilhando sua insônia, seu dia, sua música, seus pensamentos, tudo aquilo que não floresceu durante o dia com ela, a bendita Madrugada.
Nesse clima de que tudo é novo mesmo que você já tenha passado por aquilo várias vezes, ou até diariamente.
Madrugada é descanso, é reflexão sobre o dia, é expectativa de amanhã, é nostalgia das besteiras da semana.
Por isso que ela é tão tão. Porque querendo ou não, todo mundo acaba tendo que viver no dia e, quando pode, viver a madrugada é sempre fascinante!
Queria que o tempo que me sobra na Madrugada fosse o mesmo que não existe de dia. Queria que a criatividade e o turbilhão de pensamentos que surgem depois das 1 hora da manhã fossem os mesmo de 1 hora da tarde. Queria a mesma coragem e vontade da Madrugada, queria a mesma paixão, a mesma intensidade, o mesmo sabor!
Além de tudo, quero que a Madrugada continue Madrugada, não saia disso e que eu continue sempre encontrando com ela assim, casualmente.
Melhor se esses encontros forem frios e chuvosos e nem sempre sozinhos.

Cauã com insônia

domingo, fevereiro 10, 2008

Memórias sonoras

Memórias de seres humanos são fracas. Temos cérebros pequenos e incapazes de armazenar muitas coisas. Somos superiores a muitos animais, eu sei, mas ainda acho nossa memória pífia comparada ao tempo que vivemos e à quantidade de coisas que passamos durante a vida.
A minha, principalmente, é horrível. Ainda não achei um curso que me ajudasse, existem esses de leitura dinâmica, coisa e tal... Queria mesmo era um pra organizar as memórias, lembrar de coisas muito valiosas e não gastar lembranças com coisas avulsas e que ninguém lembra.
Como ainda não encontrei esse curso, me viro tentando aproveitar a que eu tenho. Já cansei de tentar discutir cenas de filmes ou lembrar de nomes de músicas. Músicas pra mim são melodias que não tem nome, são trilhas sonoras que sempre vêm acompanhadas de cenas mirabolantes. Por isso sempre tento escutar música de olhos abertos e, se escuto de olhos fechados é lembrando de alguma cena já existente.
Todos tem aquelas lembranças eternas, que vão levar pro resto da vida, aquelas cenas engraçadas ou tristes que, mesmo que você queira, nunca vão sair da cabeça. Eu tenho as minhas, são muitas. E como a minha memória não é muito boa, pra eu poder lembrar, elas vêm acompanhadas de músicas. É só ouvir uma música, aquela música, que eu lembro da cena. Instantâneo!

Pessoas dizem que quando estão perto da morte elas vêem um filme passar na mente delas, né?
Acho que na hora que estamos prestes a morrer todas essas lembranças que guardamos com muita segurança em nossas cabeças que vêm à tona. São vários momentos que vêm desde a infância e vão até àquele exato momento.
No meu caso, essas cenas viriam acompanhadas de suas respectivas músicas. Seria o set list mais rápido e mais eclético que qualquer dj jamais pensou em tocar! Seria lindo! Tenho tanta coisa bonita e emocionnate guardada nessa memória marromenos... Tanta música bonita, engraçada, estranha e inapropriada...
Se um dia eu puder ter esse filminho passando na cabeça antes de morrer, caso eu morra, morrerei feliz, com um sorriso bonito.
Vai ser tipo abertura de Oscar, onde passam todos os filmes que concorrem. Com drama, comédia, suspense, aventura, horror, terror, pavor, risos, risos, risos... E sempre uma música legal no fundo.
O Oscar de melhor trilha sonora seria meu.


Cauã

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Sonhar acordado, dormir sonhando

Tinha sido um sonho difícil, daqueles que dão muita sede quando se acorda com o lençol no chão e o corpo todo melado de suor. As janelas daquele apartamento mínimo que não tinha parede entre a sala, o quarto e a cozinha estavam fechadas. E ele não precisava. De tão pequeno, conhecia cada centímetro de bagunça que lá existia, sem ter que abrir os olhos e com as mãos amarradas. O problema era que aquela tontura forte de quem se levanta rápido não passava.
Abriu a torneira da pia e pegou aquele copo, que sempre ficava em cima do fogão, e encheu-lhe de água. Tomou três copos cheios e a sede não passou. O sono também não voltou.
A habilidade dele com o apartamento escuro era inversamente proporcional à sua noção de horário, ele não fazia idéia de que horas eram, só sabia que já era noite.

Só que dessa vez seu relógio biológico nunca esteve tão errado. Ele abriu a cortina e uma luz que ele nunca tinha visto tão forte ofuscou seus olhos. E aquela cegueira se juntou a tontura e a sede. Ficou deitado na cama por incontáveis minutos e o brilho daquele sol novo não saia do quarto. Alguma coisa estava estranha.
Ele fitou aquele feixe de luz por outros incontáveis minutos e resolveu encara-lo. Pegou seu lençol no chão, cobriu a cabeça e saiu andando. Bateu a porta do apartamento e desceu as escadas. Nunca tinha visto pessoa parecido com aquele que estava na portaria, o homem ficou o olhando com a mesma cara de espanto.
No primeiro passo na calçada ele caiu, alguém o ajudou, só que ele não conseguia ver o rosto dessa pessoa, algum tipo de sombra encobria-o. Parece que tinha desmaiado e acordado já em pé e longe de seu prédio. Mas o medo era ínfimo comparado àquela curiosidade ensolarada, continuou andando. Todos aqueles prédios não eram estranhos, era a sua vizinhança, só que com uma psicodelia de cores e brilhos nunca antes imaginada.
Reflexos nas sacadas, vidros verdes, carros amarelos, barulho, muito barulho, pessoas falando forte, pessoas que se olhavam, pessoas que não se olhavam, uma orquestra de bocas cantando várias notas inaldíveis ao mesmo tempo. Nunca tinha visto tantas pessoas juntas naquela rua.
E o mais estranho era achar tudo aquilo tão diferente e semelhante ao mesmo tempo, como um déjà-vu.

Ele passou um dia inteiro nesse déjà-vu, andou, andou, andou... Até que escureceu. E as coisas começaram a ficar do jeito que ele era acostumado a ver. E foi começando a fazer sentido, aquilo era o dia, o dia que ele nunca tinha vivido. E de tão impressionado com o dia, começou a estranhar a noite. Sentiu falta de todo aquele barulho, das cores, dos carros, das pessoas.
Correu para seu apartamento, passou pelo mesmo porteiro de sempre, - o qual não estranhou aquela correria - deitou na cama e ficou pensando em tudo que tinha passado naquele dia. Pensou se as pessoas já tinham o visto, pensou em porque o porteiro do dia cheio de luz o olhou estranho e porque o porteiro da escuridão não tinha se importado com o seu desespero.

E de tanto pensar, dormiu. E acabou sonhando que acordava no mesmo apartamento. Só que agora as janelas estavam abertas, com muita luz e nada tão estranho, e pensou: Ele estava acordado e tinha sonhado que conhecia a noite ou ele estava dormindo e tudo que ele está passando durante o dia é um sonho?

Cauã

domingo, fevereiro 03, 2008

o Adeus.

Já não precisas mais de mim, há muito tempo. Siga o vôo sempre mais alto, mais calmo, mais seu. Eu estarei sempre aqui, a observá-lo. Mas nossos bicos já não trocam alimentos. Só nossos olhares, longíquos, permanecerão. Essa casa é tua, eu já não a habito mais.

Feliz amanhã.
Acaná.

sábado, fevereiro 02, 2008

E quem um dia irá dizer que não existe razão?

Ele um visionário, ela conservadora. Ele novo, ela mais velha. Ele Eduardo, ela Mônica.
Ele tomava banho de chuva, ela banho de sol. Ele estudava enquanto ela trabalhava. Ele tinha frio e ela calor.
Eles tinham tudo que um casal pode ter pra não ter algo em comum. Tinham um mundo inteiro pela frente, um destino bonito e feliz, teriam saúde, paz e dinheiro no bolso. Teriam. Teriam se não tivessem se encontrado.
O destino tentou, tadinho, tentou mesmo. Mas não conseguiu fazer com que eles não se amassem.
Naquele dia de chuva, febre, estudos e responsabilidades ele resolveu não ser ele e arriscar todas as fixas dele num sonho dele, só dele. Num dia de tédio, ressaca, revolta e abstinência de cigarro ela resolveu ser ela. Resolveu tentar resolver todos os problemas que a incomodavam naquele momento, os outros problemas que seriam conseqüência da tentativa da resolução daqueles problemas daquele momento, ela resolveria depois. Ela foi ser ela e ele foi deixar de ser ele.
Ele era parada de ônibus e ela era supermercado. "Malditas paradas de ônibus em frente aos supermercados!" dizia o destino. Ele era casaco, calça, medo e agonia. Ela era short, casaco, vontade e agonia.
Chuva forte, ele corre pra debaixo da cobertura da farmácia enquanto ela anda calmamente pra cobertura da farmácia. "Oh não! Um lugar com dois lugares!" lamentava-se o destino. Ele direita, ela esquerda.
Ela reclama, pensa em ir andando debaixo da chuva. Mas a chuva era exatamente o motivo da ida ao supermercado pra não ter mais que sentir a chuva.
Ele não sabe se reclama ou agradece, pensa em ir andando debaixo da chuva. Mas a chuva era exatamente o motivo da ida à parada de ônibus pra não ter mais que andar debaixo de chuva.
Os dois ficam (para desgraça do destino), se olham e não se gostam. Ele era baixo, agasalhado, com cara de estudioso e com corisa no nariz. Ela era alta demais, sem roupa demais, com cara de drogada e cascão no dedo.
Depois de três minutos, quarenta e quatro segundos e sessenta e sete centésimos um anjo, que até hoje eles não sabem quem, pergunta onde fica o bar 'Legião Urbana'. Ele responde: do lado da parada. Ela responde: em frente ao supermercado.
Um olha pro outro como o intruso da resposta de ambos. Mas o anjo não tinha especificado um respondedor.
Depois de alguns segundos, que até hoje ninguém sabe quantos exatamente, ela reclamou da chuva e ele reclamou do frio. Depois ele reclama da febre e ela reclama da falta de cigarro.

Passadas muitas reclamações egoístas e muitas gotas de chuva, eles começaram a perceber o quanto tinham de incomum, o quanto não se gostavam, o quanto não dariam certo e o quanto estavam estupidamente atraídos um pelo outro.
A chuva naquele dia, para causar o suicídio dos destinos dos dois, não parou. Ele esqueceu da parada de ônibus e ela já não queria ir mais ao supermercado. Ela, como sempre, bem mais ativa, o chamou para a casa dela (a mais bagunçada casa que ele nunca teria visitado). Ele, não sendo ele, aceitou aquele convite. Definitivamente, ele não era ele mesmo!
Passada uma noite tensa e intensa, eles descobriram que nunca dariam certo e que voltariam a se ver todos os dias, que a cada dia que eles não se vissem ela teria que ir ao supermercado e ele à parada de ônibus apenas pra lembrar um do outro.
Por incrível e desafiador que pareça, eles nunca mais deixaram de se ver, mesmo quando o filhinho do Eduardo ficou de recuperação.

E todos os dias que chove muito, como hoje, eles correm pras ruas pra fazer garotos não serem eles mesmos, cigarros acabarem em casas de garotas e todos terem uma noite tensa e intensa com muitas promessas, percepções e decisões.

Cauã