segunda-feira, julho 20, 2009

Enganar a perfeição

O que a consolava era que o mundo tinha mais de 6 bilhões de habitantes. Pensava, tentava se convencer, que era impossível não existir alguém no mínimo parecido e - por não? - melhor. Ele tinha muitos defeitos dos quais ela já estava cansada, ele tinha manias que ela detestava, tinha princípios dos quais ela discordava completamente e ele sempre apertava a pasta de dente no meio. Lógico que existiriam homens muito melhores que aqueles, até mais bonitos, mais ricos, mais pacientes e menos chatos.
Mas ela também pensava que tinha ganho na loteria. Num mundo com tanta gente como ela pode achar um que amasse tanto e que tanto amor fosse recíproco, por mais que ela duvidasse. Como o tio dela dizia, sorte não se tem duas vezes, não é qualquer um que ganha o bilhete premiado repetidamente. Tem uns que jogam a vida inteira, arriscam, ganham prêmios menores e se contentam com isso, ou os que ganham o suficiente e logo gastam... Esse negócio de sorte é complicado. Por isso que ela não pensava muito em sorte, mas também já estava cansada de sair pela vida pra procurar um outro destino.
Tudo bem que o mundo da umas rasteiras de vez em quando, as vezes o melhor não é o perfeito. Ela sabia muito bem disso. As vezes o melhor é perfeito exatamente por não ser perfeito. Ela sabia muuuuito bem disso. Mas aquilo não tinha sido uma rasteira, foi um nocaute, um golpe baixo, uma imobilização que a deixou sem ar, sem forças e sem chão.
Ta, tudo bem, ainda existem as 6 bilhões de pessoas, tenho a mente livre e não tenho problemas com sexo e idade, to no lucro. Ainda tem a margem de erro da perfeição, to bem. Pensava. Se enganava.

Ta aí uma coisa que ajudava nessas horas, a capacidade de se enganar. Ela sempre sabia muito bem onde pisava, mas dependendo da necessidade, se enganava de maneiras diferentes. Se sabia que tudo ia dar certo, se engava dizendo que ia faltar tempo e corria. No final, dava certo.
Mas agora ela sabia que não ia dar, mas se enganava, jurava que todos os pensamentos que tinha eram simples e óbvios e que eram impossíveis de darem errado. No final, dava errado. Ela já sabia, mas adiava a dor.
E agora ela vive adiando, se enganando, fazendo o que sabe fazer melhor. As 6 bilhões ainda estão aí. Ela também. Ele ta lá, ela aqui.

Só tinha uma coisa que não deixava aquele casal ser perfeito: tamanha perfeição.