quinta-feira, maio 25, 2006

O salto

Quando estava a caminho do colégio, aconteceu um fato que chamou a minha atenção. Havia chovido muito, e por isso os buracos das calçandas tinham se tornado verdadeiros "lagos artificiais". Estava caminhando, até que reparei em um menino que vinha com sua mãe na minha direção. Ao meu lado havia uma dessas poças enormes cheia de água suja e terra. Ela estava mais perto de mim, e assim que a alcancei, desviei e continuei a olhá-los. Quando ele chegou perto da poça, parou diante dela e a contemplou por um momento, logo depois olhou para sua mãe, que o retribuiu com um olhar de desaprovação. Com um sorriso malicioso no rosto, olhou para os lados, para a poça, e pulou! Mas caiu, havia calculado mal, dera um passo maior que a perna, e em conseqüencia disto, molhou o pé e espirrou água para todos os lados. Porém, ao contrário do que muitos podem pensar, ele se ergueu, sacudiu o pé e sorriu para sua mãe. Que coisa feia menino! Você viu o que você fez? Está todo sujo! - disse ela. Todos em volta concordaram e olharam para ele com ar de punição. Eu, ao contrário deles, sorri, pois vi nessa atitude a determinação e a coragem frente à um obstáculo. Ele enfrentou o medo e a possível punição de sua mãe, e pulou. Sua mãe escolheu o caminho mais fácil, o de desviar, assim como eu e muitos outros. Escolhemos porque sabemos os efeitos de nossas ações e analisamos nossas possibilidades. E ficamos sempre nisso, desviando dos problemas e dos desafios, nunca o enfrentamos, pois sabemos que temos a chance de cair. Sim ,cair! Por que não? Por que não ter a determinação do menino e pular? É mais cômodo ficar onde estamos, na estabilidade da vida que segue e nos leva para onde quisermos, fazendo com que sejamos escravos de nossos medos. Cadê a força de vontade e o otimismo? Pelo visto ficaram guardadas na caixa de Pandora junto á esperança. O menino errou o cálculo sim, e daí?! Qual o problema de errar? Os erros não servem para nos ridicularizar, e sim nos impulsionar a tentar de novo, e a tentar, e a tentar... com as tentativas, as pernas crescem e se fortificam para a vitória de um próximo salto. E se a queda vier, levante e sorria como um menino! Muitos irão humilhá-lo, mas não ligue, corra atrás das borboletas amarelas!
Continuei a andar e a olhar para trás, por mais que sua mãe brigasse, o menino continuava sorrindo, de certo pensando, "da próxima vez eu consigo!". A minha vontade era de ir lá e dizer "estou contigo".

Acaná.

3 comentários:

Maurício disse...

porque poucos reparam nos detalhes, só alguns conseguem entender uma criança, raros são aqueles que tentam viver parecidamente como uma criança. Que cada poça d'agua é uma aventura e não iguais.
Sábios são as pessoas que olham pra tras e dizem que aquela poça foi só o começo de uma grande jornada de aprendizado

Otimo!

Cauã

Guto Lobato disse...

pode crer...concordo.
vc já reparou como cada mínimo detalhe desse mundo pode nos levar a refletir sobre milheres de coisas?
o mundo é extremamente metafórico às vezes.

Marcelo Ribeiro disse...

Que graça de texto. Puro e sensível...numa expectativa eterna de acertar o alvo =]

beijoca